quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Busca



Não comentarei sobre o fim do mundo, pelo contrário, prefiro falar sobre a busca incessante pela vida e prazer.
Há dentro de cada um de nós valores, sentimentos, desejos e frustrações, que não são perceptíveis pelas pessoas que estão em nossa volta. Muitas ocasiões, tomados por determinados sentimentos, nós apenas calamos e deixamos que o pensamento flua, impregnando a alma.
Ainda bem que é assim, pois há sentimentos, há sensações, há prazeres na vida que não se pode partilhar com ninguém; são sentimentos que calam no fundo da alma de cada um de nós, a reafirmar a nossa condição de gente. Muitas vezes, pode ser uma raiva intensa de determinada pessoa, que, em face de convenções sociais, não pode ser externada; outras vezes, pode ser apenas a vontade quase incontida de ter no aconchego dos braços a pessoa que se ama, mas que, às vezes por timidez ou por outra circunstância qualquer, não temos coragem de revelar.
Todavia, para mim, o importante mesmo não é a possibilidade ou a impossibilidade de se externar um sentimento, pelas mais diversas razões. O que importa mesmo, desde a minha percepção, é sentir, é ter a convicção de que o tempo passa e não perdemos a capacidade de sentir as emoções que sentimos em tantas oportunidades já vividas.
Viver, por isso, é sim, um quase incontido prazer. Aliás, Freud dizia que quem fixa os objetivos da vida é a busca do prazer. Textualmente: “Quem fixa os objetivos da vida é simplesmente o Princípio do Prazer, que rege as operações do aparelho psíquico desde a sua origem” ( O mal-estar da civilização)








segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Campanha para a Secretaria da Cultura de São Luís


Resposta de Zeca Baleiro à ideia para ser secretário municipal da cultura de São Luís

"Este texto é para agradecer a mobilização que foi feita nas redes sociais há cerca de um mês pedindo o meu nome para Secretário Municipal de Cultura de São Luís do Maranhão. Naturalmente fiquei lisonjeado com a “campanha”, uma iniciativa de fãs, entusiastas e amigos, mesmo que não tenha sido feito nenhum convite oficial.


Nunca havia passado pela minha cabeça o projeto de assumir um cargo como o de Secretário de Cultura, mas é claro que, uma vez deflagrada a campanha, minha mente sonhadora se perdeu em mil projetos e devaneios. Sonhei festivais, editais, ocupação artística da área histórica, revitalização de fato, oficinas, intercâmbios e troca de conhecimentos com o resto do país. Sempre lutei, à minha maneira e com as armas que tinha, por uma vida cultural proativa, intensa e autossuficiente nas cercanias do Maranhão, estado cuja diversidade culturale racial ímpar faz dele um dos grandes tesouros do país (ainda que bastante escondido).

Mas o cargo de Secretário Municipal de Cultura é um cargo político, e mais que político, burocrático. E eu, por mais que me esforçasse, não me sentiria capaz (não neste momento pelo menos) de desempenhar a função como devida. Sou um artista, e é dessa maneira que sinto que posso ajudar no desenvolvimento cultural do meu lugar de origem. Mas não tenho ilusões. Não se muda o cenário cultural de uma cidade, estado ou país com atitudes paternalistas ou favores de balcão (cultura que aliás sempre imperou no Maranhão), mas sobretudo com uma discussão madura sobre o tema e uma proposta efetiva e plausível de política cultural. Infelizmente o Maranhão – e São Luís a reboque – está ainda na pré-história do debate político sobre cultura, como de vários outros debates (e faço aqui uma exceção honrosa a alguns guerreiros solitários como os amigos Joãozinho Ribeiro e Josias Sobrinho).

O que vigora é a “politicagem” mais estéril e infrutífera (frutífera apenas para os bolsos dos beneficiados, que não são poucos) e a briga de interesses tacanhos de grupos políticos e/ou partidários. Ora, a cultura é um bem comum, e deveria estar acima de interesses deste ou daquele. Mas não á assim que acontece, infelizmente.

E assim vai-se levando a carruagem, dando esmolas à nobreza da cultura popular e enriquecendo os cofres de joões-ninguéns articulados e bem relacionados, mas sem nenhum comprometimento com o fazer cultural. Minto, pois eles têm sim um comprometimento com a cultura - a cultura do dinheiro, sujo de preferência, e ganho às custas do suor de poetas, pintores, escritores, músicos, grafiteiros, atores ou simplesmente amantes da arte e da beleza. Enriquecem enquanto morrem à míngua felipes, leonardos, tetés, nivôs e toda a realeza mestiça espalhada (e esquecida) nos guetos de nossa outrora “Ilha Rebelde”.

Pois é justamente o que falta à nossa cidade: rebeldia. Rebeldia de verdade, visceral, guerreira, suicida quem sabe. Aprender a não bater continência aos absurdos e desmandos de governantes, sejam quais forem. Aprender que fazer cultura é muito mais que administrar orçamentos de Carnaval e de São João, prestigiando grupos não por talento ou mérito, mas por retribuição a sei lá que “tenebrosas transações”.

Há muitas pessoas capazes em São Luís – artistas ou não - para ocupar o cargo de Secretário de Cultura. Espero que o prefeito eleito tenha a sabedoria de escolher uma pessoa honesta e realmente comprometida com os rumos culturais da cidade. Nenhum governo, em nenhuma esfera, pode ser considerado “vitorioso” se não se basear no tripé básico Saúde + Educação + Cultura. Desejo sorte a ele e à cidade durante seu mandato.

E se por acaso acontecer de um dia eu ser de fato convidado para cargo semelhante, espero estar à altura de merecê-lo, e ser capaz de fazer metade do que sonho como projeto cultural ideal para minha cidade, cidade que amo, apesar de todos os pesares de toda relação de amor, que pode (e deve) ser crítica, por que não? Isso não torna o meu amor menor. Nem minha revolta. Sim, revolta contra as almas mesquinhas que querem apequenar o que nasceu para ser grande e belo e altivo, como a nossa Ilha de Upaon-Açu, grande desde o nome até o seu destino."

Zeca Baleiro
26 de novembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

Oração



Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do voo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos continuem se alargando sempre. Porque eu ainda sonho.

Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo, seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Essa calou os americanos!


Não é uma notícia nova, mas vale a pena ler de novo, até porque não é todo dia que um brasileiro dá um esculacho educadíssimo em um americano.

Durante um debate em uma universidade, no EUA, o Ex-ministro da Educação e Ex-Governador do DF e atual Senador, Cristóvam Buarque, foi questionado sobre a internacionalização da Amazônia. O americano que perguntou disse que esperava uma resposta de um humanista, e não de um brasileiro. Bem, essa foi a resposta do Senador:

“De fato, como brasileiro eu defenderia que sou contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nosso governo não tenha o devido cuidado com o patrimônio, ele é nosso.

“Como humanista, sentindo a degradação que sofre a Amazônia, é natural que isto se torne um problema mundial e defenda-se a internacionalização. Bem, se a Amazônia, sob a ética humanista deve ser internacionalizada, deve-se internacionalizar também as jazidas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante quanto a Amazônia, apesar disso os donos do petróleo sentem-se a vontade para aumentar e diminuir o preços dos combustíveis. Da mesma maneira o capital financeiro dos países ricos também deve ser internacionalizado. Se a Amazônia é tão importante então, de fato, não pode ficar nas mãos de uma só pessoa para queimá-la. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego criado pelas especulações arbitrárias dos países ricos. Antes mesmo da Amazônia gostaria de ver a internacionalização dos grandes museus. O Louvre não deve ficar apenas com a França. Trata-se de um patrimônio mundial e não um privilégio dos milionários egocêntricos como um japonês de decidiu ser enterrado ao morrer com um quadro de um pintor famoso. A cultura é para o mundo inteiro.

Neste encontro aqui nos EUA muitos representantes tiveram dificuldade de entrar na cidade nas fortes fronteiras americanas, assim acho que a cidade de Nova York deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a todos, assim como Veneza, Paris e Rio de Janeiro, Brasília e Roma.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia para não deixá-la nas mãos dos brasileiros, então vamos internacionalizar as reservas nucleares dos EUA, pois estas podem criar uma destruição milhares de vezes maior do que qualquer queimada na Amazônia. Defendo trocar a internacionalização de floresta por dívida. Comecemos garantindo que cada criança no mundo possa COMER e ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as todas elas de igual modo, independente do lugar que estão dando a elas os mesmos materiais escolares.

Como humanista, defendo a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja só nossa. Só nossa”

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Professor



Hoje é um dia que passa por nós como os demais, apenas percebido pelo fato de ser um dos vários feriados em nosso país, mas, de fato, é um dos poucos dias que merecem esse famigerado título de feriado, ou de pelo menos lembrado. Dia dos professores!

Não sou professor (já tentei), mas confesso que vontade não falta, pelo caminho traçado, pelo conhecimento adquirido e claro, pelo oportunidade de repassar algo a alguém. É uma ótima sensação, ou deve ser. Nosso país não carece de políticas públicas para a educação, seja na manutenção, seja no fomento do ensino. Elas existem! No entanto, não são plenamente adequadas ou implementadas. Concorrem com outros “interesses” que não geram resultados eficazes ou atingem um porção pequena da população.

Penso que diante de greves, más condições de trabalho e ensino, escolas sucateadas, insegurança e baixíssimos salários, nossos representantes poderiam fazer algo a mais, valorizando a função do professor e não apenas o cargo. O ensino, assim como o conhecimento está em diversos lugares e a capacidade de lecionar esta em todos os recôncavos de nossas escolas (públicas, principalmente), mas não são alvo da nossa deficiente política.

Ao contrário da maioria, não acho que o governo não valoriza nossos professores, creio que nosso país não valoriza o que eles fazem. 

(Este na foto era foi meu professor de matemática, na 8ª série, Pedro Airton. Um dos melhores que tive. Só ele mesmo para fazer simulados na quadra da escola, gincanas de questões de Baskara (era o terror), vivia com suas mãos sujas de giz, sempre com um bom humor e rara excentricidade. )

segunda-feira, 8 de outubro de 2012



Meus amigos, o ministro Joaquim Barbosa, do STF, poderá ser chamado à presidência da Corte Suprema nessa quarta-feira, 10. Com a iminente aposentadoria do atual presidente, ministro Carlos Ayres Britto, a nomeação poderá ser em novembro. Será uma chance de ver melhor a figura do “exaltado e adorado” ministro Joaquim à frente do Tribunal. Em entrevista à Folha de SP, ele afirma não ser um herói no presente julgamento do mensalão (ele se considera mais um anti-herói, rs), mas confirma sua incisividade nas acusações, pois traz de sua experiência como ex-procurador da república essa veia pela proteção da administração pública.

Votou em Lula nas duas oportunidades para presidente, não nega. Ele sabe da melhoria que o país obteve (não sou partidário do PT, ok?) por isso não escondeu seu voto, além de é claro ter sido nomeado pelo ex-presidente para a cadeira no STF. Mas, apesar disso, opõe-se piamente a bonificações e favoritismos políticos e sabe que tem que ser imparcial e julgar. É o que está fazendo desde então.

Considero o ministro Joaquim Barbosa um juiz da corte, e ponto. Também não o considero herói, creio que essas definições advêm do fato de não termos o costume de fazer o correto ou bons exemplos na nossa alta cúpula do país. Considero-o um brasileiro que sofreu (e sofre até hoje) com nosso famigerado racismo, fruto de anos de escravidão e retaliação social devida à cor da pele. Considero-o simples, tímido, humilde, mas com uma personalidade ímpar e forte. Admiro quem se dedica a uma causa e crer que, de fato, aquilo fará diferença e que consegue desenvolver-se na vida. Foi o caso dele, da pobreza e dos banhos no rio de sua cidade no interior mineiro até o ponto maior na nossa justiça.

Assim, exalto-o, não pela sua posição no Judiciário ou por sua figura estar na mídia (acho que isso até o assusta), mas pela sua capacidade de ser quem é, que faz o que tem que ser feito. Julgar e defender nossa constituição.

domingo, 16 de setembro de 2012

Amanhecer



Naquele amanhecer, senti uma brisa cálida no rosto, acordei na varanda do apartamento e, ainda sobre as cobertas frias e amassadas, olhei o horizonte e o sol a nascer. Com o olhar mais agudo olhei para baixo, na entrada da rua, em uma casa qualquer, vi você.

Estava varrendo inadvertidamente a sarjeta onde as folhas amarelas da amendoeira teimavam em cair naquela estação. Você sob aquela sensação primária olhou para cima. Viu-me, petrificou-se. Possuía um olhar indescritível de dó e carinho, mas não havia alegria em seus olhos castanhos e em seu rosto quase sempre sério. Apoiei-me no batente da sacada por um instante, o vento ainda soprava naquela rua estranha, não havia carros, pessoas ou cães perdidos; apenas eu, você e um espaço metafísico entre nós.

Preferi recolher o coração, agarrar-me no orgulho e, dando três passos para trás, fugi do seu olhar esperando que o dia começasse bem.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Nosso final é simples, tchau.



Não há mais nada aqui de você. Tudo foi embora. Deus abençoou meu sonho, minha intenções. Foi assim que acordei e deixei minha cama em seu eterno sono abaixo da janela que há tempos prometo consertar. Com um ar de alegria, pensara que a noite tivera sido perfeita, pois você não estava comigo, não, apenas meu lençol e meu celular na cabeceira que trouxe de outra época. Lembrar que você perseguia-me sem saber, sufocava-me sem intenção, ria de mim mesmo longe da porta da minha casa. Mas estava feliz.

O sol que outrora se escondia detrás das nuvens negras, suas vassalas, agora ilumina meu dia e não permite que o frio de seus lábios molhem minhas lembranças com a nostalgia que acompanhara minhas noites de contos inventados. Já fui russo por muito tempo, então fuja de mim românticos suicidas e vodkas despretensiosas! Não mais!

Sabemos que tudo, nesse caminho sem volta, acompanha-nos como a inércia e repugnância de uma simbiose de sentimentos que não fazem mais sentidos e que, por isso, devem ser largados em nosso “Ser”. Deixe-me apenas com o que tenho de bom em mim, isso eu faço questão de preservar. Assim, sei que nada nos deixa, mas que pode mudar e que será sempre parte de mim, mas nunca eu por completo. Assim tudo passa.

Agora preciso ir, e pegar o caminho que você não viu. Assim, suas memórias me deixarão passar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A queda do solar de usher



"Durante um pesado, sombrio e silente dia de outono, em que as nuvens pairavam opressivamente baixas no céu, estive passeando sozinho a cavalo em uma região do interior singularmente tristonha, e afinal me encontrei, ao caírem as sombras da tarde, no melancólico solar de usher. Não sei explicar, ao primeiro olhar invadiu-me a alma uma angustia insuportável, poética, cruel, desolação do terror. Contemplei o panorama a minha frente – era uma casa simples, com paisagem simples. Paredes soturnas, janelas vazias, uns poucos canteiros de caniços e uns troncos brancos de arvores mortas Como um sonho de ópio. Havia um engessamento, uma tontura, uma enfermidade inimaginável. Quem dele desperta, a amarga recaída da vida cotidiana, vive o tombar do véu.  Não era frio. Era indiferença. Uma revolta do coração." 

Edgar Allan Poe

sábado, 4 de agosto de 2012

Ler o mundo



Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Mas, deve-se continuar. Paixão de ler. Ler a paixão.

Como ler a paixão se é a paixão quem nos lê? Esse é o sentimento quando os inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à revelia. O corpo é um texto.  Alguns, confesso, são hieróglifos dificílimos, mas não será incompetência nossa, iletrados diante deles?

Cada um à sua maneira. O médico até parece o amante. Ele também lê o corpo e lembra a semiologia (ciência das leituras dos sinais, dos sintomas). Freud quis ler o interior, um invisível texto estampado do inconsciente. Marx pretendeu ler a história e descobrir os mecanismos nela inscritos de desigualdade social. Os executivos e empresários falam em “qualidade total”, mas não seria “leitura total”?. Provoco aqui não o termo “leitura da economia”, mas “economia da leitura”. Triste fim de nossas vidas perdidas em anúncios constrangedores e palpites desnecessários.

Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. As palavras formam um jardim com um “sotaque” natural. O arquiteto igualmente escreve um texto na prancheta da realidade, suas avenidas podem ser absolutistas, militaristas, mas os rascunhos das ruas podem ser democráticos, expressão das comunidades. O astrônomo lê o céu e a epopeia das estrelas. O físico lê o caos. O administrador lê a vida e tenta organizá-la. Um arqueólogo lê nas ruínas uma história antiga de amor e guerras. Tudo é texto.

Paulinho da viola dizia: “As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Não é só Tostoi que retrata vidas. Uma dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração. Até o quadro branco sobre o branco de Malevich conta uma história.

sábado, 28 de julho de 2012

...Glup.



Noite estreladas, sons nos becos, cerveja gelada, papos desconcertantes, sincronicidade e um amor a recordar. O que vivemos em nossas “saídas”, happy hour, festas, são pródigos dos “embalos de sábado à noite”, a diferença é que toca pagode ou um reggae de fundo, mas isso, meus caros, é que faz o habitat do brasileiro ser tão especial.

Não há espaços para radicalismos e preconceitos, não há soberba que resista a uma noite debaixo das calhas de casarões históricos e alguns copos de vinho. Não! Não sou o festeiro da vez, mas não sou hipócrita. Não nego aventuras (o livre-arbítrio não deixa), pois elas serão os motivos de meus futuros sorrisos de meia boca.

Sufoca-se no próprio ego e afoga-se em seu pseudomoralismo quem pensa que todos são iguais ou que tudo termina sempre do mesmo jeito. Bem, a garrafa vazia vai para debaixo da mesa, assim como a timidez; mas a alegria mergulha na gota que escorre do copo. Vamos ser quem podemos ser, vamos filosofar, mesmo que nossa ágora seja entre as cadeiras de plástico da esquina.
(foto tirada por mim no Reviver - Centro Hst de São Luís)

sábado, 21 de julho de 2012

Lembranças de histórias não contadas



Nunca fui bom em poesias, histórias ou lições de moral. Gostava das simplicidades, dos ditados populares, do “direto ao assunto”. Enrolava-me até para contar um filme. Mas o conto sempre estava em minha mente e eu sempre evitava ver seu rosto pálido, singelo e enganador. Ninguém quer ouvir histórias tristes, desde que sejam reais. O fato e o mero sonho faz parte do que sou e do que penso. Somos todos assim.

Assim como sem a música, a vida sem um bom texto, sem uma boa história a recordar seria um erro. Vivemos para aprender com aquilo que experimentamos. No entanto, temos que, às vezes, dar um basta a algumas coisas, às lembranças mal resolvidas, aos ciúmes despretensiosos, à fome de barriga cheia, à solidão premeditada. A história é o tesouro da alma, mas o zelo e o toque são dádivas que nos permitimos ter.

Um olhar carinhoso hoje é melhor que devaneios de um amor que se foi.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Inconformismo






Penso em inconformismos todas as noites. É de nascença. Crescemos com genes, mas temos muito a aprender – e podemos fazer isso. A ideia de me fechar em verdades absolutas me constrange, isso me lembra a Idade Média, que, aliás, desenvolveu-se em nossos tristes livros de história como a “Idade das Trevas” (creio que foi isso, eu não estudo mais para vestibular, rs), não porque foi “pobre” em criações culturais, mas, justamente, porque o conformismo reinava. Criamos e Outorgamos, cabe aos demais obedecerem. Conformarem-se.

Por exemplo. não opino contra o modo como alguns ‘ditos’ pastores de ‘ditas’ igrejas “tributam” os suados dízimos de nosso proletariado brasileiro (o que já é um absurdo por si); mas protesto é com o modo, histórico e ideologicamente, que nos fechamos em um mundo de fantasias e de puro conformismo.

O Ser humano desenvolveu o fogo tentando fazer o fogo...e fez. Não há regras de como se devem comportar as ideologias secretas de cada um, pois isso é pessoal e qualquer tentativa de um possível controle sobre o que penso será frustrada. Penso assim, acho que por isso sou constantemente inconstante. Inconformado.

Logicamente devemos saber quem somos e o que podemos fazer, mas justificar a vida alheia é irritante, desnecessário e desgastante, fruto de uma mente banal, fútil. Acho isso de quem tenta fazer manipulações com os outros ou apenas conformá-los.

Viva, seja feliz e gire com o mundo... mas não deixe que ele faça você girar em torno de si próprio.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Não há definições





Não creio que grandes vitórias ou terríveis derrotas possam definir alguém. Nesses momentos somos extremos de nós mesmos, estamos no êxtase do que podemos ser. Na maioria das vezes estamos no comum, no cotidiano, na rotina que é tanto temida, na linha tênue do sorriso de meia-boca e das lágrimas nos lençóis. Esses momentos é que nos definem.

Temos que nos comparar sempre com aquilo que podemos ser de melhor! Não por clichê de frases de Google ou de autores de autoajuda que faturam milhões à custa das decepções alheias, não, mas porque sabemos que a nossa maior conquista está no dia-a-dia, quando precisamos de ajuda e só podemos recorrer a nós mesmos. Não há amigos que resolvam nossos problemas mais rotineiros, pois, se mal resolvidos, eles retornarão como as batidas do sino da igreja fazendo com que você acorde logo cedo.

Você não superará todos os seus problemas, caia na real. No entanto, pode viver com o que tem de melhor em si, e que, por mais que a noite não acabe ou o sol seja mais forte que seus olhos, você sabe que terá que continuar.

O mundo tem que continuar. As pessoas irão te trair. As pessoas irão te amar.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Nuances Juninas


Ruas enfeitadas, fogos de artifício, sons à meia noite. Em certas datas, experimentamos várias nuances, facetas do comum e do irreverente também. Depende de cada um. Felicidade e Paz em certos dias, mas há também angústia, solidão e tristeza nas valas na beira da estrada, nos viadutos esquecidos, marcados com o grafite de outrora, pessoas que sobraram, assim como os copos descartáveis ao sabor do vento da madrugada.

Há mistura de sentimentos e de fatos, a alegria e a inquietação, a festa e o filme debaixo do cobertor, a canjica e o cigarro, a índia e a recordação. Não se pode ter apenas uma visão e uma equivocada generalização; curtem-se os dois momentos. Pular a fogueira e escrever à luz da TV. Na barraca do beijo a sedução consumada. No devaneio da noite a perfeição contemplada. Vivemos as duas faces. Momentos que de tão comuns, são diferentes.

Se dormir, sonhe com a celebração. Se for comemorar, não esqueça que a noite sempre termina.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Alguém Especial


As pessoas pouco sabem do sentido ou dos reais significados de suas histórias. Uns buscam saber, outros apenas vivem. Admiro quem dá um porquê às coisas, mas me encanta quem apenas vive, pura e simplesmente. A pessoa assim é interessante. Talvez peque em detalhá-la, mas ousarei em descrevê-la.

Essa pessoa torna-se interessante quando apenas vive a vida com tudo que tem para ser vivida, livre como uma nuvem em um céu distante. Quando acorda tem uma singela felicidade, assim como ao dormir. Quando sente fome, come e faz disso um evento. Quando conversa é alegre e direta. Quando olha o sol, sabe que amanheceu e que a vida continua. Seu semblante é uma pintura neoclássica e sua voz é uma música impossível de não dançar. Dos pensamentos não preciso falar. Essa pessoa é perfeita em se mostrar, é feliz ao se abraçar, é poesia ao cativar.

Um rosto meigo, um sorriso faceiro, que nada precisa falar, pois já tem o amor em seu olhar.

Esse foi para você.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Tecidos bordados dos céus



Sempre questionei o modo como, despretensiosamente, outras pessoas buscam incessantemente fazer com que suas opiniões sejam as prevalentes. Isso independe do tema discutido, de política econômica ao futebol de várzea. As pessoas querem mostrar serviço, mesmo que não entendam o suficiente sobre algo. Não vejo problema em dizer que não sei ou que já ouvi falar. Faz parte do crescimento humano entender e, caso não consiga, buscar meios para fazê-lo.
Todos nós temos sonhos, vidas isoladas e em sociedade. Não cabe a mim ou a qualquer pessoa dizer o que é certo ou não, mas apenas definir o que é, naquele momento, adequado – desde que seja de conhecimento de todos ou provado. Penso que cada pessoa tem uma “base” para se apoiar, que origina suas ideias. Creio que nossas crenças não estão apenas na nossa mente, cabeça ou coração, mas acima de tudo em nossos pés! Sim, pois eles se movem e nos movem. Nossa base, força. Assim, não sobrepuje seus sonhos ou opiniões em detrimento dos outros, pois cada um tem algo que não pode ser movido por ponderações alheias: Sonhos!
Assim, pense duas vezes antes de “pisar” nos outros, pois, assim, estará pisando nos sonhos deles. Ou também não peça aquilo que o outro não possa lhe oferecer, pois, às vezes, o que é oferecido é pouco, mas para quem oferece, representa muito. Cabe aqui um poema de W. B. Yates:

“Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com luz dourada e prateada,
Os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz e da meia-luz,
Os estenderia sob os teus pés.
Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos.
Eu estendi meus sonhos sob os teus pés
Caminha suavemente, pois caminhas sobre meus sonhos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um método perigoso



"Às vezes as pessoas têm que fazer algo imperdoável só para continuar vivendo".

As pessoas temem a mente perturbadora de algumas pessoas, ainda mais quando pagam para conhecê-la, destaco aqui a do cineasta David Cronenberg (Um método perigoso). Eu gosto; porque adoro sair tonto do cinema, ou no caso da minha casa mesmo. Ficar em silêncio horas, na tentativa de digerir vorazmente o que acabo de ver. Isso ocorreu ao assistir “Um Método Perigoso” (2011).  Frases como a supratranscrita acabam com meu sono, para variar. E ela começa e termina assim: “Meu amor por você foi a coisa mais importante na minha vida. Por bem ou por mal, me fez entender quem eu sou. Às vezes as pessoas têm que fazer algo imperdoável só para poder continuar vivendo.”. E mais: “O resto é silêncio”.

Não é fácil um pensamento desse te cutucando o juízo, com “aquela” sessão de que, no fundo, você já sabia... É uma verdade, daquelas que dói quando nos vemos diante desse espelho (outro método perigoso: o de saber se enxergar de dentro para fora e de fora pra dentro, feito reflexo.Tente.).

É um filme preciso, cirúrgico, metódico e sistemático, assim como David Cronenberg. E devastador!, com sua brilhante ideia de mostrar o encontro de Jung e Freud, às vésperas da primeira Guerra Mundial e pós-guerra (e, também, a “guerra” travada entre esses dois gênios). O encontro com Sigmund Freud (Viggo Mortensen) faz Jung ficar entalado entre a interpretação de certas neuroses pelo viés sexual (teoria da qual não discorda, mas acha limitante) e o amor, cada vez mais latente, por sua paciente. Jung experimenta métodos, ensinando a profissão a Sabina e quebrando as próprias regras. E aí vem, como quase tudo na vida, a culpa social, um dos motivos que faz com que qualquer pessoa embarque na loucura.

O cinema de Cronenberg é tão poderoso a ponto de nos presentear com diálogos inteligentes e imagens fantásticas: pontos altos do filme. “Anjos sempre falam em alemão, diz-se (uma das muitas frases sarcásticas). Assim como “O Prazer nunca é simples, complementa. A perspicácia das conversas torna o filme sóbrio, adulto e espetacular, mitigando tabus.

É um filme que merece ser visto e revisto. E é aí que eu entro e saio, pondo pulgas atrás da sua orelha, meu caro leitor, feito uma dica para um domingo tão monótono (isso para alguns,quando não tem praia ou um jogo do Mengão, rs) ... Desperte sua simples vontade de falar o óbvio e sentir o comum, pois isto está em falta atualmente.
Texto adaptado de uma coluna de jornal

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Pé na lama e sapato na sombra


Hoje pela manhã, ao assistir um jornal, perdi o ânimo logo cedo. Uma das cidades que sofreram com as enchentes no Rio de Janeiro, ano passado, possui um ginásio escolar com 5 Toneladas de sapatos mais produtos de higiene “largados” que nunca foram entregues!

O Brasil todo doou para ajudar na reconstrução da vida daqueles que sofreram com aquela catástrofe, mas que nunca receberam nada. É indignante ver o repórter subir em uma pilha de sapatos doados que nunca foram entregues a quem realmente precisava (precisa). Sapatos novos ou usados, papéis higiênicos, pastas de dentes, sabonetes, roupas, tudo faz a diferença quando nada restou, não importa a origem.

Deve ser horrível acordar a noite com o som de toneladas de terras sobre sua casa, quebrando estruturas, matando amigos e parentes e ver, com as chuvas, tudo indo embora. Assim como a esperança. Penso que quem doou fica frustrado com as cenas, mas quem é cidadão e humano não irá se arrepender de ter “tentado” fazer algo para ajudar. E não deve se arrepender mesmo.

Aqui no Brasil, isso é mais um dos famigerados problemas de mais uma de nossas municipalidades que, nesse caso, mostra que além do problema da ausência do controle dos produtos, provou ter absoluta falta de humanidade.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Porque as pessoas que amamos nos decepcionam?


Certa vez, li uma frase de Millôr Fernandes, que dizia: Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem. É exatamente isso! Convivemos, cotidianamente, com pessoas que não conhecemos. Julgávamos conhecer, nutríamos admiração e, de repente, descobrimos que tudo não passou de um engano. Nessa hora, deixamos aflorar os sentimentos mais sombrios que existem.

Quanta decepção!Não consigo entender como algumas pessoas possuem certa facilidade em ferir, magoar, ofender, rotular as outras. E o que é pior: agem pelo "instinto" e não se arrependem de tamanha maldade. Não percebem que agindo assim, transformam completamente o dia daquela pessoa, causando-lhe profunda dor e sofrimento. Que bom seria se praticássemos mais a linguagem do afeto, do carinho, do amor, para que não surgissem discussões que só trazem infelicidade, raiva ou conflito para ambas as partes.Demorei uma vida inteira tentando aprender a "ler pessoas". Já me enganei, me decepcionei, inúmeras vezes...
Criei expectativas demais, esperei demais delas e, infinitas vezes, elas simplesmente não corresponderam. Hoje, sou do tipo de pessoa que tem pouquíssimos amigos, mas os poucos que tenho são fieis e verdadeiros. Daquele tipo de amigo que me defende com unhas e dentes porque me conhecem verdadeiramente. Aceitam e respeitam meus defeitos e destacam minhas qualidades. Porque defeitos todos nós temos e apontar defeitos é muito fácil, difícil mesmo é reconhecer as qualidades do outro. E, mesmo com todas as decepções ao longo do caminho, posso afirmar que não excluo ninguém da minha vida, apenas reorganizo as posições e inverto as prioridades.A gente aprende a amar, facilmente. Mas como deixar de amar, de gostar, de admirar? Deixar um sentimento verdadeiro para trás é tarefa árdua. A dor é inevitável. Mas essa ruptura, mais cedo ou mais tarde será necessária. Se você não se sente valorizado pelo outro, não vale a pena insistir na amizade, no relacionamento. É chegada a hora de se libertar.

Refiro-me a liberdade de sentimentos. É possível sim, conviver com esse “tipo de gente” sem ter que se igualar a eles. Um primeiro passo seria assumir uma postura do tipo "eu me junto, mas não me misturo", e ter o cuidado de usar as palavras a seu favor, não como pedras que machucam, mas como afagos, procurando “abraçar” as pessoas ao seu redor através de suas palavras. Palavras dos sentimentos.E para definir melhor esse meu momento “decepção”, nada melhor que deixar registrado aqui, as palavras dos sentimentos de uma grande mulher, que me acompanha há muito, muito, tempo.“Não sei amar pela metade… Não sei viver de mentiras e nem sei voar de pés no chão… Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre… Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou sempre seguir meu coração…

Não tentem me fazer ser quem não sou e não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente…”

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Arte de escrever nada


Nada e Tudo. É isso o que eu tenho a escrever. Temas diversos e variados, notícias, modismos e clichês. É sobre isso que sou cobrado quando me veem na rua e questionam sobre este blog? Não, ou pelo menos espero que não. Pouquíssimas pessoas me perguntam sobre este suposto diário eletrônico (odeio esta definição). A questão é o porquê das perguntas? (São ‘pouquíssimas’ pois são realmente poucas as pessoas que leem o meu blog). Bem, sei que não o fazem por “maldade” no sentido de ver minha reação ou, de certa forma, o constrangimento que me persegue desde sempre. Não! Essas pessoas perguntam: “Iaí, cadê o blog? Não escreveu mais?”, pois leem o mesmo, e por isso sou grato. Outras até erram o nome dele, por confusão com o jogo de palavras ou, no que eu prefiro acreditar, por escárnio mesmo. Não culpo, nem condeno. O mundo é o sistema, engloba a todos, e, assim, somos todos simplesmente “amansados” pelo cotidiano. Não temos tempo para nada de importante (ou pelo menos para aquilo que realmente importa), e temos tempo para tudo, talvez eu faça, talvez não, talvez eu escreva amanhã, talvez fique para a próxima.

Estou disposto a estar cansado e cansado de estar disposto. Não há regras com os pensamentos, por isso não escrevo sempre.

A instantaneidade não é programada, é rotinizada e vulgarizada, por isso não escrevo, meus amigos. Não por soberba, nem por preguiça, mas simplesmente porque tem sentido naquele momento.

E agora, treino a arte de escrever nada.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Ciclos


A vida é feita de ciclos. Você nasce em um, vive outros e termina também em um. Algumas pessoas revivem apenas um ciclo, repetidamente. Estão presas. Neste ano de 2012 eu, assim como várias pessoas, estou mudando meu ciclo, vendo as coisas de maneira diferente, sentindo, observando, criando, tentando, ou seja, vivendo diferente. Não são as roupas, nem a aparência, mas a percepção, aquilo que nos diferencia dos demais. Aquilo que precisa de tempo e sutileza para ser percebido, notado.
Se a “virada” de ano representa deixar velhos hábitos, então que seja. A cada ano mudamos, a cada dia aprendemos, temos ótimos anos e difíceis também, onde temos que enfrentar a solidão, a indiferença de quem amamos, problemas de saúde ou profissionais, mas se estamos aqui, então temos que viver. Quem tem promessas não morre.
A única certeza é a mudança, assim, como afirma Fernando Pessoa, mudo não por orgulho, por soberba ou incapacidade, mas porque aquilo simplismente não se encaixa mais em mim. Para mim, uma dose de esperança e força deveria se fortalecer em cada pessoa, todos os dias, pois isso é que interessa, e é o que nos resta.
Feliz 2012! O mundo não acabará, apenas seu ciclo.
I dedicate to Kwesi, Dylan and Vicent.