segunda-feira, 25 de julho de 2011

...a perfeição existia


“O Sentimento não encontra palavra que o descreva, ela disse, e então calou-se. Ela era assim mesmo, estranha e misteriosa. Falava por monossílabos e era inútil tentar tirar-lhe algo mais. Suas palavras tinham um tempo próprio, alheias às exigências do momento. Só falava quando encontrava a justa forma pra dizer o que sentia.

E, naquela longínqua noite de inverno, a frase viera a propósito da música que estivéramos a ouvir, o quarteto Opus 132, de Beethoven.

Estávamos deitados sobre dois almofadões no chão, encolhidos e de mãos dadas sob os cobertores, quando ela falou.

A perfeição existia.

Olhei para ela. Seu olhar atravessava minhas paredes e muros, e me peguei fazendo confidências, criando raízes. Ela era a minha terra, a planície onde eu pousava após meus voos turbulentos.

Mas a perfeição existe só de passagem, nunca para ficar, e então me veio um medo, um quase desejo de não ser feliz para não perder a felicidade depois (o Sentimento não encontra palavra que o descreva). E então cortei, brusco, o fluir das palavras. Mas ela não pareceu surpresa. Conhecia a vida e os viventes. Só não conhecia a palavra que descrevesse o sentimento. Como eu.

Mas por todo aquele inverno seguimos na busca, juntos, e uma noite fizemos amor ao som de Beethoven. Depois daquela noite decidimos dar por encerrada a busca. Agora, mais que nunca, aquele Sentimento não encontraria uma palavra que o descrevesse. E então nos separamos. Nunca mais a vi. Depois dela, os sentimentos têm sido descritos com palavras tristes, melancólicas.

Os caminhos agora são outros e ao meu lado dorme uma outra mulher, que não me olha por dentro e que não sabe que Beethoven existe. Mas ainda moro na mesma casa, e os almofadões ainda são os mesmos. “E nas noites de inverno ainda ponho a tocar o quarteto Opus 132, que me desperta um Sentimento antigo, ainda não descrito, que me consola.”

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Encontros e Desencontros


Pela manhã, sentado e tomando café em uma lanchonete, observei uma dupla de amigas. Conversavam sobre o relacionamento de uma delas e o quanto “sofriam por amor”. As pessoas, definitivamente, sofrem por vários motivos; alguns mais simples, outros mais intrigantes. Encaixo-me nesse segundo.

Vivenciando o que noite proporciona, percebi o quanto posso ser comum e instigante ao mesmo tempo, o que é pior. Passei a me comportar de maneiras diferentes para ver situações também diferentes. Consegui. Vi absurdos e participei de ironias. Fui casual e espontâneo em uma mesma semana. Enfim, fiz. Porém, nada sacia meu Ego. Ninguém entende meus valores...

Bem, retornando para a conversa das amigas, percebi que cada um enfrenta aquilo quer. Vê – e sente – o que deseja. Tem a necessidade de passar pelo pântano e comer a lama para ver se está vivo. Estranho, mas totalmente humano.

Relacionamentos? Não questione, não entenda, não queira ver, pois, cuidado! O que você pede, você pode conseguir. Não lute contra você mesmo. A alma guarda o que a mente tem que esquecer. E no fundo, sabemos onde isso vai acabar: em uma mesa de bar, ou de uma lanchonete.

Portanto, não sou indiferente, nem cruel. Somente aprendi a não me incomodar com clichês e tapinhas nas costas. Nós vamos até onde queremos ir. E que por mais rude que possa ser, a pessoa facilitará as coisas se perceber que, apesar de seus méritos e esforços, só pode oferecer aquilo que estou disposto a encontrar.