terça-feira, 14 de abril de 2015

Em algum lugar no passado


Você não vai acreditar. É a primeira vez que estamos nos vendo e não é a primeira vez. Eu, na verdade, voltei para 23 de agosto de 2013. São 20h 20min, instantes anteriores ao nosso primeiro beijo. Parece loucura, mas em 15 minutos você perguntará se eu ficarei contigo, de um jeito direto e abusado, e responderei desconcertado diante de nosso pouco contato:
- Acho que sim.
E daí o chicote da sua língua não deixará por menos:
- Acho não me serve!
Com o desafio, não me deixará opção, prenderei seus braços na parede e a beijarei longamente.
Queria dizer que vim do futuro porque não consegui consertar nosso presente - e sinto uma saudade imperdoável. Nossa vida está condenada ao ressentimento.
Não confia em mim? Pois não escolheremos nenhum preto principal da risoteria. Iremos do couvert direto à sobremesa.
Ainda não acredita? Daqui a pouco sairá para fumar, aliviada porque também fumo, você sempre quis um namorado fumante. Estará chovendo e colocará o casaco na cabeça, parecerá um elfo.  Peço a você que desapegue do passado, abandone o que já viveu.
Não está entendendo nada que estou falando, né? Bem, como adverti-la daquilo que nos afastou e não estragar a noite em que nos conhecemos? Se o medo fosse assim, doce e ingênuo, estaríamos salvos. Você não é ingênua. Você vai errar comigo e não se movimentará para consertar, envergonhada e imobilizada pelo orgulho ferido.  E perderemos o contato. Mas antes, perderemos uma gravidez, a nossa espontaneidade, perderemos nossa vontade de morar na Zona Sul, os amigos e família.  E nos perderemos para sempre. Iremos nos separar em 2015. Após um ano e sete meses. Hoje vamos transar, será inesquecível, seu corpo foi feito para se encaixar no meu, adoramos a mistura de nossos perfumes, estaremos leves, alegres e maravilhados com nossa empatia. No próximo dia não iremos nos desgrudar, trará lentamente sacola de roupas para o apartamento, até vir com as malas, após aceitar meu pedido de casamento com os olhos encolhidos de felicidade, mergulhada numa braçada de rosas colombianas.
Mas, amor, peço para nunca se afastar de mim. Em hipótese alguma. Meu tempo está acabando e te beijarei com lábios trêmulos. Vejo que não entende a gravidade de meu apelo. Pensa que é apenas uma declaração romântica. Esquecerá em meio a tanta coisa boa desta madrugada e nunca mais terei a chance para avisá-la do quanto é um crime para a eternidade não estarmos juntos. Carpinejar