Ou não, porque nem sempre
deciframos os sinais à nossa frente. Mas, deve-se continuar. Paixão de ler. Ler
a paixão.
Como ler a paixão se é a paixão
quem nos lê? Esse é o sentimento quando os inconscientes pergaminhos sofrem um
desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à revelia. O corpo é um texto. Alguns, confesso, são hieróglifos
dificílimos, mas não será incompetência nossa, iletrados diante deles?
Cada um à sua maneira. O médico
até parece o amante. Ele também lê o corpo e lembra a semiologia (ciência das
leituras dos sinais, dos sintomas). Freud quis ler o interior, um
invisível texto estampado do inconsciente. Marx pretendeu ler a história e
descobrir os mecanismos nela inscritos de desigualdade social. Os executivos e
empresários falam em “qualidade total”, mas não seria “leitura total”?. Provoco
aqui não o termo “leitura da economia”, mas “economia da leitura”. Triste fim
de nossas vidas perdidas em anúncios constrangedores e palpites desnecessários.
Um paisagista lê a vida de
maneira florida e sombreada. As palavras formam um jardim com um “sotaque”
natural. O arquiteto igualmente escreve um texto na prancheta da realidade,
suas avenidas podem ser absolutistas, militaristas, mas os rascunhos das ruas
podem ser democráticos, expressão das comunidades. O astrônomo lê o céu e a epopeia
das estrelas. O físico lê o caos. O administrador lê a vida e tenta
organizá-la. Um arqueólogo lê nas ruínas uma história antiga de amor e guerras.
Tudo é texto.
Paulinho da viola dizia: “As
coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Não é só Tostoi que retrata vidas. Uma dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração.
Até o quadro branco sobre o branco de Malevich conta uma história.
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