domingo, 16 de setembro de 2012

Amanhecer



Naquele amanhecer, senti uma brisa cálida no rosto, acordei na varanda do apartamento e, ainda sobre as cobertas frias e amassadas, olhei o horizonte e o sol a nascer. Com o olhar mais agudo olhei para baixo, na entrada da rua, em uma casa qualquer, vi você.

Estava varrendo inadvertidamente a sarjeta onde as folhas amarelas da amendoeira teimavam em cair naquela estação. Você sob aquela sensação primária olhou para cima. Viu-me, petrificou-se. Possuía um olhar indescritível de dó e carinho, mas não havia alegria em seus olhos castanhos e em seu rosto quase sempre sério. Apoiei-me no batente da sacada por um instante, o vento ainda soprava naquela rua estranha, não havia carros, pessoas ou cães perdidos; apenas eu, você e um espaço metafísico entre nós.

Preferi recolher o coração, agarrar-me no orgulho e, dando três passos para trás, fugi do seu olhar esperando que o dia começasse bem.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Nosso final é simples, tchau.



Não há mais nada aqui de você. Tudo foi embora. Deus abençoou meu sonho, minha intenções. Foi assim que acordei e deixei minha cama em seu eterno sono abaixo da janela que há tempos prometo consertar. Com um ar de alegria, pensara que a noite tivera sido perfeita, pois você não estava comigo, não, apenas meu lençol e meu celular na cabeceira que trouxe de outra época. Lembrar que você perseguia-me sem saber, sufocava-me sem intenção, ria de mim mesmo longe da porta da minha casa. Mas estava feliz.

O sol que outrora se escondia detrás das nuvens negras, suas vassalas, agora ilumina meu dia e não permite que o frio de seus lábios molhem minhas lembranças com a nostalgia que acompanhara minhas noites de contos inventados. Já fui russo por muito tempo, então fuja de mim românticos suicidas e vodkas despretensiosas! Não mais!

Sabemos que tudo, nesse caminho sem volta, acompanha-nos como a inércia e repugnância de uma simbiose de sentimentos que não fazem mais sentidos e que, por isso, devem ser largados em nosso “Ser”. Deixe-me apenas com o que tenho de bom em mim, isso eu faço questão de preservar. Assim, sei que nada nos deixa, mas que pode mudar e que será sempre parte de mim, mas nunca eu por completo. Assim tudo passa.

Agora preciso ir, e pegar o caminho que você não viu. Assim, suas memórias me deixarão passar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A queda do solar de usher



"Durante um pesado, sombrio e silente dia de outono, em que as nuvens pairavam opressivamente baixas no céu, estive passeando sozinho a cavalo em uma região do interior singularmente tristonha, e afinal me encontrei, ao caírem as sombras da tarde, no melancólico solar de usher. Não sei explicar, ao primeiro olhar invadiu-me a alma uma angustia insuportável, poética, cruel, desolação do terror. Contemplei o panorama a minha frente – era uma casa simples, com paisagem simples. Paredes soturnas, janelas vazias, uns poucos canteiros de caniços e uns troncos brancos de arvores mortas Como um sonho de ópio. Havia um engessamento, uma tontura, uma enfermidade inimaginável. Quem dele desperta, a amarga recaída da vida cotidiana, vive o tombar do véu.  Não era frio. Era indiferença. Uma revolta do coração." 

Edgar Allan Poe