terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Café na tela



Sabe-se que a televisão é boa companhia. Há quem more sozinho e ligue o aparelho todos os dias, ao voltar para casa, apenas para se sentir menos solitário. Outros, mesmo com amigos na sala, não conseguem deixar de prestar atenção na tela, interrompendo conversas só para ouvir melhor.

Um pesquisa comportamental da Universidade da Califórnia descobriu que os depressivos podem se beneficiar com uma boa dieta de rostos televisivos pela manhã. Os rostos precisam ter tamanhos reais e estarem à distância de uma conversação normal. É como se substituísse as pessoas e desse humor similar ao da socialização normal.

Nesse sentido, há uma categoria de espectadores ainda pouco estudada, mas digna de nota: a do cara que conversa com a tv. Levando ao extremo sua cotidiana interação com os pixels. A relação que se tem com a telinha vai da personalidade de cada um.

Por exemplo, eu falo às vezes com minha TV, digo: "Não diga!" ao comentário óbvio da apresentadora do telejornal. Gosto de adivinhar o gracejo final das reportagens (tenho grande talento nessa área) e inventar chamadas mais interessantes: "No próximo bloco: como saber se seu hamster está possuído? E mais: os gols da rodada".

Há quem responda às perguntas dos shows de prêmios, decifre charadas, dê boa noite ao âncora, não se contenha ao ser instigado num programa infantil, ou cante a música do programa do Ratinho. Também, nos filmes, faço questão de avisar a menina ingênua que o bandido está vindo por trás com uma foice. Em filmes, aliás, sou do tipo participativo: ofendo o elenco e bato as pernas no espanto da cena de suspense. Outros inserem dublagens toscas nas novelas e, muitas vezes, ficam melhores que as originais.

Mas, na dúvida, parafraseando uma finada vinheta da MTV: “Desliga a TV e vai ler um livro”.