Resposta de Zeca Baleiro à ideia para ser secretário municipal da cultura de São Luís
"Este texto é para agradecer a mobilização que
foi feita nas redes sociais há cerca de um mês pedindo o meu nome para
Secretário Municipal de Cultura de São Luís do Maranhão. Naturalmente fiquei
lisonjeado com a “campanha”, uma iniciativa de fãs, entusiastas e amigos, mesmo
que não tenha sido feito nenhum convite oficial.
Nunca havia passado pela minha cabeça o projeto
de assumir um cargo como o de Secretário de Cultura, mas é claro que, uma vez
deflagrada a campanha, minha mente sonhadora se perdeu em mil projetos e
devaneios. Sonhei festivais, editais, ocupação artística da área histórica,
revitalização de fato, oficinas, intercâmbios e troca de conhecimentos com o
resto do país. Sempre lutei, à minha maneira e com as armas que tinha, por uma
vida cultural proativa, intensa e autossuficiente nas cercanias do Maranhão,
estado cuja diversidade culturale racial ímpar faz dele um dos grandes tesouros
do país (ainda que bastante escondido).
Mas o cargo de Secretário Municipal de Cultura
é um cargo político, e mais que político, burocrático. E eu, por mais que me
esforçasse, não me sentiria capaz (não neste momento pelo menos) de desempenhar
a função como devida. Sou um artista, e é dessa maneira que sinto que posso ajudar
no desenvolvimento cultural do meu lugar de origem. Mas não tenho ilusões. Não
se muda o cenário cultural de uma cidade, estado ou país com atitudes
paternalistas ou favores de balcão (cultura que aliás sempre imperou no
Maranhão), mas sobretudo com uma discussão madura sobre o tema e uma proposta
efetiva e plausível de política cultural. Infelizmente o Maranhão – e São Luís
a reboque – está ainda na pré-história do debate político sobre cultura, como
de vários outros debates (e faço aqui uma exceção honrosa a alguns guerreiros
solitários como os amigos Joãozinho Ribeiro e Josias Sobrinho).
O que vigora é a “politicagem” mais estéril e
infrutífera (frutífera apenas para os bolsos dos beneficiados, que não são
poucos) e a briga de interesses tacanhos de grupos políticos e/ou partidários.
Ora, a cultura é um bem comum, e deveria estar acima de interesses deste ou
daquele. Mas não á assim que acontece, infelizmente.
E assim vai-se levando a carruagem, dando
esmolas à nobreza da cultura popular e enriquecendo os cofres de joões-ninguéns
articulados e bem relacionados, mas sem nenhum comprometimento com o fazer
cultural. Minto, pois eles têm sim um comprometimento com a cultura - a cultura
do dinheiro, sujo de preferência, e ganho às custas do suor de poetas,
pintores, escritores, músicos, grafiteiros, atores ou simplesmente amantes da
arte e da beleza. Enriquecem enquanto morrem à míngua felipes, leonardos,
tetés, nivôs e toda a realeza mestiça espalhada (e esquecida) nos guetos de
nossa outrora “Ilha Rebelde”.
Pois é justamente o que falta à nossa cidade:
rebeldia. Rebeldia de verdade, visceral, guerreira, suicida quem sabe. Aprender
a não bater continência aos absurdos e desmandos de governantes, sejam quais
forem. Aprender que fazer cultura é muito mais que administrar orçamentos de
Carnaval e de São João, prestigiando grupos não por talento ou mérito, mas por
retribuição a sei lá que “tenebrosas transações”.
Há muitas pessoas capazes em São Luís –
artistas ou não - para ocupar o cargo de Secretário de Cultura. Espero que o
prefeito eleito tenha a sabedoria de escolher uma pessoa honesta e realmente
comprometida com os rumos culturais da cidade. Nenhum governo, em nenhuma
esfera, pode ser considerado “vitorioso” se não se basear no tripé básico Saúde
+ Educação + Cultura. Desejo sorte a ele e à cidade durante seu mandato.
E se por acaso acontecer de um dia eu ser de
fato convidado para cargo semelhante, espero estar à altura de merecê-lo, e ser
capaz de fazer metade do que sonho como projeto cultural ideal para minha
cidade, cidade que amo, apesar de todos os pesares de toda relação de amor, que
pode (e deve) ser crítica, por que não? Isso não torna o meu amor menor. Nem
minha revolta. Sim, revolta contra as almas mesquinhas que querem apequenar o
que nasceu para ser grande e belo e altivo, como a nossa Ilha de Upaon-Açu,
grande desde o nome até o seu destino."
Zeca Baleiro
26 de novembro de 2012
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