quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Busca



Não comentarei sobre o fim do mundo, pelo contrário, prefiro falar sobre a busca incessante pela vida e prazer.
Há dentro de cada um de nós valores, sentimentos, desejos e frustrações, que não são perceptíveis pelas pessoas que estão em nossa volta. Muitas ocasiões, tomados por determinados sentimentos, nós apenas calamos e deixamos que o pensamento flua, impregnando a alma.
Ainda bem que é assim, pois há sentimentos, há sensações, há prazeres na vida que não se pode partilhar com ninguém; são sentimentos que calam no fundo da alma de cada um de nós, a reafirmar a nossa condição de gente. Muitas vezes, pode ser uma raiva intensa de determinada pessoa, que, em face de convenções sociais, não pode ser externada; outras vezes, pode ser apenas a vontade quase incontida de ter no aconchego dos braços a pessoa que se ama, mas que, às vezes por timidez ou por outra circunstância qualquer, não temos coragem de revelar.
Todavia, para mim, o importante mesmo não é a possibilidade ou a impossibilidade de se externar um sentimento, pelas mais diversas razões. O que importa mesmo, desde a minha percepção, é sentir, é ter a convicção de que o tempo passa e não perdemos a capacidade de sentir as emoções que sentimos em tantas oportunidades já vividas.
Viver, por isso, é sim, um quase incontido prazer. Aliás, Freud dizia que quem fixa os objetivos da vida é a busca do prazer. Textualmente: “Quem fixa os objetivos da vida é simplesmente o Princípio do Prazer, que rege as operações do aparelho psíquico desde a sua origem” ( O mal-estar da civilização)








segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Campanha para a Secretaria da Cultura de São Luís


Resposta de Zeca Baleiro à ideia para ser secretário municipal da cultura de São Luís

"Este texto é para agradecer a mobilização que foi feita nas redes sociais há cerca de um mês pedindo o meu nome para Secretário Municipal de Cultura de São Luís do Maranhão. Naturalmente fiquei lisonjeado com a “campanha”, uma iniciativa de fãs, entusiastas e amigos, mesmo que não tenha sido feito nenhum convite oficial.


Nunca havia passado pela minha cabeça o projeto de assumir um cargo como o de Secretário de Cultura, mas é claro que, uma vez deflagrada a campanha, minha mente sonhadora se perdeu em mil projetos e devaneios. Sonhei festivais, editais, ocupação artística da área histórica, revitalização de fato, oficinas, intercâmbios e troca de conhecimentos com o resto do país. Sempre lutei, à minha maneira e com as armas que tinha, por uma vida cultural proativa, intensa e autossuficiente nas cercanias do Maranhão, estado cuja diversidade culturale racial ímpar faz dele um dos grandes tesouros do país (ainda que bastante escondido).

Mas o cargo de Secretário Municipal de Cultura é um cargo político, e mais que político, burocrático. E eu, por mais que me esforçasse, não me sentiria capaz (não neste momento pelo menos) de desempenhar a função como devida. Sou um artista, e é dessa maneira que sinto que posso ajudar no desenvolvimento cultural do meu lugar de origem. Mas não tenho ilusões. Não se muda o cenário cultural de uma cidade, estado ou país com atitudes paternalistas ou favores de balcão (cultura que aliás sempre imperou no Maranhão), mas sobretudo com uma discussão madura sobre o tema e uma proposta efetiva e plausível de política cultural. Infelizmente o Maranhão – e São Luís a reboque – está ainda na pré-história do debate político sobre cultura, como de vários outros debates (e faço aqui uma exceção honrosa a alguns guerreiros solitários como os amigos Joãozinho Ribeiro e Josias Sobrinho).

O que vigora é a “politicagem” mais estéril e infrutífera (frutífera apenas para os bolsos dos beneficiados, que não são poucos) e a briga de interesses tacanhos de grupos políticos e/ou partidários. Ora, a cultura é um bem comum, e deveria estar acima de interesses deste ou daquele. Mas não á assim que acontece, infelizmente.

E assim vai-se levando a carruagem, dando esmolas à nobreza da cultura popular e enriquecendo os cofres de joões-ninguéns articulados e bem relacionados, mas sem nenhum comprometimento com o fazer cultural. Minto, pois eles têm sim um comprometimento com a cultura - a cultura do dinheiro, sujo de preferência, e ganho às custas do suor de poetas, pintores, escritores, músicos, grafiteiros, atores ou simplesmente amantes da arte e da beleza. Enriquecem enquanto morrem à míngua felipes, leonardos, tetés, nivôs e toda a realeza mestiça espalhada (e esquecida) nos guetos de nossa outrora “Ilha Rebelde”.

Pois é justamente o que falta à nossa cidade: rebeldia. Rebeldia de verdade, visceral, guerreira, suicida quem sabe. Aprender a não bater continência aos absurdos e desmandos de governantes, sejam quais forem. Aprender que fazer cultura é muito mais que administrar orçamentos de Carnaval e de São João, prestigiando grupos não por talento ou mérito, mas por retribuição a sei lá que “tenebrosas transações”.

Há muitas pessoas capazes em São Luís – artistas ou não - para ocupar o cargo de Secretário de Cultura. Espero que o prefeito eleito tenha a sabedoria de escolher uma pessoa honesta e realmente comprometida com os rumos culturais da cidade. Nenhum governo, em nenhuma esfera, pode ser considerado “vitorioso” se não se basear no tripé básico Saúde + Educação + Cultura. Desejo sorte a ele e à cidade durante seu mandato.

E se por acaso acontecer de um dia eu ser de fato convidado para cargo semelhante, espero estar à altura de merecê-lo, e ser capaz de fazer metade do que sonho como projeto cultural ideal para minha cidade, cidade que amo, apesar de todos os pesares de toda relação de amor, que pode (e deve) ser crítica, por que não? Isso não torna o meu amor menor. Nem minha revolta. Sim, revolta contra as almas mesquinhas que querem apequenar o que nasceu para ser grande e belo e altivo, como a nossa Ilha de Upaon-Açu, grande desde o nome até o seu destino."

Zeca Baleiro
26 de novembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

Oração



Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do voo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos continuem se alargando sempre. Porque eu ainda sonho.

Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo, seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais.