segunda-feira, 1 de junho de 2015

Fuga e encontro


Se as palavras no papel acompanhassem na mesma velocidade o que pensamos, teríamos verdadeiras obras de arte, mesmo que prolixas e confusas, em sua maioria. Em meus devaneios diários não me atrevo a tentar transcrever tudo o que reflito – se é que faço isso – num espaço qualquer. Não há tempo hábil.
Bem, uma coisa é o tempo, outra, igualmente importante, é o objeto do discurso. Textos são pessoais. Ficção ou fatos vividos são obras pessoais. O leitor deve saber que aquelas palavras representam pequenos atos de egoísmo que são compartilhados para alguém. O autor é o egoísta que mais doa ao mundo, logo. Se aqueles rascunhos permanecessem “presos” em gavetas nunca abertas, de nada valeriam. O autor morreria com seu orgulho, sozinho. Doar, por sua vez, também não significa ter um destinatário específico. Escrever pode ter um sentido fechado, ou seja, o autor se contenta com o simples (longe disso) ato de escrever. Faz porque tem que escrever, não porque alguém tem que ler. Ou, como na vida, poderíamos dizer que você é o que você ama, não quem ama você. Se o leitor identificar-se com o texto, ótimo; porque escrever é fazer da fuga, um encontro.