quarta-feira, 6 de abril de 2016

Vida, desmedida


Tenho o costume antigo de acordar cedo, não por que alguém fazia barulho na cozinha ou o galo cantava no quintal, mas, sobretudo, devido nunca suportar a ideia, mesmo que sem perceber, de que o dia estava lá fora e eu nada faria a respeito. Prefiro o frio do amanhecer e do café quente na mesa a ter que me esgueirar pela madrugada, moribundo de sono. Trabalhar, ler um bom texto e planejar atividades sempre foram tarefas melhor executadas no início do dia. Apesar de adorar a noite, considero-me um “cara matinal”. Enfim, hoje, logo pela manhã, li um texto que me fez pensar sobre nossa vida competitiva, e, muito além dos conceitos exíguos de capitalismo financeiro, refleti sobre a concepção equivocada que temos sobre nossas ações cotidianas. Nessa vida, temos pressão social em sermos bem sucedidos, eficientes, “gente boa”, alegres, donos do carro do ano, bem casados, ou passarmos a simples e boba percepção que temos uma vida considerada interessante. Para isso, temos que enfrentar e derrotar todos que passarem por nós, mostrando o nosso lado cruel de combatividade, ou seja, dizermos que somos melhores social, cultural ou financeiramente que os demais. Tolos somos nós ao viver assim, como touros e toureiros numa arena. Penso, nessa busca desenfreada por vitórias desmedidas, que nos perdemos nesse caminho, julgamos, batemos e, de fato, não vivemos em conjunto, em sociedade. O homem caçador-coletor, antes do Neolítico, percebeu que até 80% que precisava para sua subsistência, advinha da coleta em natureza, não da caça em si. Além disso, a atividade em grupo colaborava mais que a caça isolada. Esse modo de viver precedeu a agricultura e a pecuária e trouxe a ideia mais nobre e genuína de trabalho em grupo e coletividade. Perdemos isso com o tempo, e o altruísmo existe devido atitudes individuais e não mais da vontade social que o mundo dê certo, de maneira geral. Bloquear sua vida por um aspecto ou busca de pódio social, sem considerar o meio em que vive e as pessoas impactadas, é uma empreitada mesquinha e vergonhosa, por se dizer. Quando o homem lembrar que o conceito de humanidade é plural, melhor seremos para todos.