domingo, 16 de setembro de 2012

Amanhecer



Naquele amanhecer, senti uma brisa cálida no rosto, acordei na varanda do apartamento e, ainda sobre as cobertas frias e amassadas, olhei o horizonte e o sol a nascer. Com o olhar mais agudo olhei para baixo, na entrada da rua, em uma casa qualquer, vi você.

Estava varrendo inadvertidamente a sarjeta onde as folhas amarelas da amendoeira teimavam em cair naquela estação. Você sob aquela sensação primária olhou para cima. Viu-me, petrificou-se. Possuía um olhar indescritível de dó e carinho, mas não havia alegria em seus olhos castanhos e em seu rosto quase sempre sério. Apoiei-me no batente da sacada por um instante, o vento ainda soprava naquela rua estranha, não havia carros, pessoas ou cães perdidos; apenas eu, você e um espaço metafísico entre nós.

Preferi recolher o coração, agarrar-me no orgulho e, dando três passos para trás, fugi do seu olhar esperando que o dia começasse bem.

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