Naquele amanhecer, senti uma
brisa cálida no rosto, acordei na varanda do apartamento e, ainda sobre as
cobertas frias e amassadas, olhei o horizonte e o sol a nascer. Com o olhar
mais agudo olhei para baixo, na entrada da rua, em uma casa qualquer, vi você.
Estava varrendo inadvertidamente
a sarjeta onde as folhas amarelas da amendoeira teimavam em cair naquela
estação. Você sob aquela sensação primária olhou para cima. Viu-me,
petrificou-se. Possuía um olhar indescritível de dó e carinho, mas não havia alegria
em seus olhos castanhos e em seu rosto quase sempre sério. Apoiei-me no batente
da sacada por um instante, o vento ainda soprava naquela rua estranha, não
havia carros, pessoas ou cães perdidos; apenas eu, você e um espaço metafísico
entre nós.
Preferi recolher o coração,
agarrar-me no orgulho e, dando três passos para trás, fugi do seu olhar
esperando que o dia começasse bem.
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