sábado, 4 de agosto de 2012

Ler o mundo



Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Mas, deve-se continuar. Paixão de ler. Ler a paixão.

Como ler a paixão se é a paixão quem nos lê? Esse é o sentimento quando os inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à revelia. O corpo é um texto.  Alguns, confesso, são hieróglifos dificílimos, mas não será incompetência nossa, iletrados diante deles?

Cada um à sua maneira. O médico até parece o amante. Ele também lê o corpo e lembra a semiologia (ciência das leituras dos sinais, dos sintomas). Freud quis ler o interior, um invisível texto estampado do inconsciente. Marx pretendeu ler a história e descobrir os mecanismos nela inscritos de desigualdade social. Os executivos e empresários falam em “qualidade total”, mas não seria “leitura total”?. Provoco aqui não o termo “leitura da economia”, mas “economia da leitura”. Triste fim de nossas vidas perdidas em anúncios constrangedores e palpites desnecessários.

Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. As palavras formam um jardim com um “sotaque” natural. O arquiteto igualmente escreve um texto na prancheta da realidade, suas avenidas podem ser absolutistas, militaristas, mas os rascunhos das ruas podem ser democráticos, expressão das comunidades. O astrônomo lê o céu e a epopeia das estrelas. O físico lê o caos. O administrador lê a vida e tenta organizá-la. Um arqueólogo lê nas ruínas uma história antiga de amor e guerras. Tudo é texto.

Paulinho da viola dizia: “As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender”. Não é só Tostoi que retrata vidas. Uma dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração. Até o quadro branco sobre o branco de Malevich conta uma história.