sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Amantes (2008)


 

Amantes (Two lovers) é um daqueles filmes que marcam de uma forma singela, ao mesmo tempo que trazem um aprendizado valioso. Inicialmente, quando o assisti lá em 2008, não vi tão claramente sua mensagem, que só fui perceber anos depois, após viver experiências que sempre me fizeram retornar a esse filme. Leonard é um judeu de uns 30 anos que volta a morar com seus pais após sua noiva o abandonar. Ele tem surtos depressivos e acaba se envolvendo com duas mulheres que entram em sua vida de forma casual. Cassandra (Vinessa Shaw), filha do sócio de seu pai e Michelle (Gwineth Paltrow), sua vizinha que possui uma vida turbulenta e problemática.

Ele vive fotografando lugares e continua preso mentalmente a seus problemas. Enquanto Cassandra traz à tona um doce sentimento de lar e família, Michelle vira seu mundo de ponta a cabeça, fazendo com que Leonard faça de tudo para ficar ao lado dela. Vive numa linha dividida entre a realidade de alguém que realmente gosta dele e a fantasia de conquistar outra que não demonstra interesse ou que não possui nada em comum com ele. O diretor James Gray faz muito bem isso ao jogar com as câmeras, quando, em um momento, Leonard se mostra desinteressado por Cassandra em seu quarto e busca imediatamente a ansiedade que é estar com Michelle, ao buscar sua janela.

O desinteresse que ele mostra por Cassandra, ele também sente em relação à sua vida, família e trabalho. Já com Michelle ele demonstra um outro lado, mas ainda assim muito ingênuo sobre a vida. Creio que o filme ensina a como visualizamos a realidade ou até a distorcemos, seja por imaturidade, seja por uma depressão ou traumas emocionais. Amantes é um drama romântico melancólico, com uma fotografia fria e uma trilha sonora judia que serve tanto aos momentos tristes, quanto nos felizes do personagem. Ah, e é mais uma atuação magistral de Joaquim Phoenix.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

De olhos bem fechados (1999)


Essa foi a última obra do aclamado diretor Stanley Kubrick, que morreu logo após o longa. Inicialmente, não foi bem recebida pela crítica, no entanto, com o tempo, foi-se percebendo as sutilezas e genialidades do diretor, que acabou por não ver sua obra finalizada.

Acompanhamos a história do casal Bill (Tom Cruise) e Alice (Nicole Kidman), ricos e com um casamento aparentemente perfeito, que ao irem em uma festa de gala, cada um acaba por flertar com outras pessoas, colocando à prova o casamento e mostrando que a relação não era tão perfeita assim. Bill flerta com duas modelos, enquanto Alice dança com um desconhecido que claramente apenas quer leva-la para a cama. Após a festa, em casa, o casal acaba discutindo e Bill fica transtornado ao ouvir uma confissão de Alice, dizendo que tinha se apaixonado por um marinheiro assim que eles se casaram e que largaria tudo para ficar com ele se tivesse uma chance. Bill então sai de casa para atender a um chamado – ele é médico – e acaba por perambular pelas ruas de uma sombria Nova York.

Bill interage com várias pessoas e, após saber de uma festa secreta através de um amigo pianista, acaba indo fantasiado a uma mansão isolada. Nesse momento, creio que fica mais interessante ao leitor assistir ao longa e tirar suas conclusões desse terror criado pelo Kubrick. De olhos bem fechados trata sobre relações, pecados, desejos reprimidos e falta de comunicação. Ao andar pela cidade, sob uma trilha sonora macabra feita apenas com o som de teclas de piano, Bill busca uma fuga de sua realidade conjugal ao tentar fazer coisas que normalmente não faz. No fundo, os personagens sucumbem aos desejos, mostrando que somos animais, vestindo fantasias de humanos civilizados.

De olhos bem fechados é um dos filmes que mais gosto e admiro do Kubrick, é um suspense que parece um sonho, mas com conotações e alegorias sobre instintos e desejos bem reais e que denunciam nossa condição humana. 

 

Na estrada (2012)



Dirigido por Walter Salles, Na estrada é a adaptação do clássico “On the road”, de Jack Kerouac e teve produção-executiva de Francis Ford Copolla. Retrata quando o jovem escritor Sal Paradise sai de casa em busca de aventuras, em 1947, para se inspirar a escrever seu livro, passando por diversos lugares e conhecendo várias pessoas, de todos os tipos. Como o amigo Carlo e o co-protagonista do filme, o elétrico e inconsequente Dean Moriarty, a quem Sal passa a seguir em diversas situações, desde noites de drogas, mulheres e até quando cometem pequenos delitos. O livro, assim como o filme, retrata a chamada geração Beat, principalmente citada na década de 50.

Walter Salles, vindo de experiencias magnificas como Central do Brasil e Diários de motocicleta, dá a esse filme uma bela fotografia e personagens fortes e interessantes, fazendo jus ao livro de Kerouac, no entanto, peca um pouco por se arrastar no segundo ato do longa, mostrando apenas uma repetição de viagens e delitos sem sentido. Por outro lado, o filme reforça o ritmo dos protagonistas, sempre ligando os jovens ao Jazz, que, com suas notas improvisadas e certa anarquia musical, demonstra bem a intenção e vida deles.

Destacam-se, também, os diversos personagens que atravessam a história, como a Marylou (Krinsten Stewart), a cativante Terry (Alice Braga), a comovente Camille (Kirsten Dunst) e o escritor Old Bull Lee (ótima interpretação de Vigo Mortensen), entre outros. Por fim, o filme trata com calma como, na verdade, aqueles jovens também eram egoístas e inconsequentes, a exemplo do Dean que se aproveita dos seus fiéis amigos seguidores que o tratam como se ele fosse uma quase-divindade, mas que, ao fim, percebe e acaba sofrendo as consequências de uma vida desregrada e de sua eterna fuga das responsabilidades.

Na estrada vale muito a pena, assim como a leitura de On the road é essencial para os amantes da literatura.