terça-feira, 10 de novembro de 2020

Um lindo dia na vizinhança (2019)

Em uma biografia em formato bem diferente, “Um lindo dia na vizinhança” conta parte da história do apresentador infantil, Mr. Rogers, interpretado de forma magnífica por Tom Hanks. A diretora Marielle Heller fez o longa de uma maneira pouco convencional, pois, embora seja uma representação da vida de Mr. Rogers, o protagonista é o jornalista Lloyde Vogel, que recebeu a incumbência de escrever um artigo numa revista sobre o apresentador, enquanto passava por um momento difícil em sua própria vida.

Com problemas familiares e desconfiado, Lloyde se questiona sobre a extrema benevolência de Mr. Rogers, que sempre é uma pessoa atenciosa, empática e feliz, algo que Lloyde (nem ninguém) não estava acostumado a ver. O filme mostra como era a rotina do programa infantil, que, mesmo sendo muitas vezes brega e um pouco lento, cativava os telespectadores, tornando o Mr. Rogers um ícone da TV. O longa também é feliz ao mostrar a influência indireta de Rogers sobre a vida de Lloyde, que possui problemas de relacionamento com seu pai ausente, vivido por Chris Cooper.

Em um mundo cada vez mais cruel e acelerado, “Um lindo dia na vizinhança” deixa-nos refletindo sobre como podemos ser mais empáticos e como uma conversa verdadeira e interessada tem um poder magnífico na vida das pessoas ao nosso redor. Com o exemplo de Mr. Rogers, esse filme é uma verdadeira lição de vida e de compaixão.


sábado, 17 de outubro de 2020

This is Us (2016)

 

Hoje não trago um filme, mas sim uma série. This is Us foi lançada em 2016 pela NBC e criada por Dan Fogelman. Nós acompanhamos a vida de trigêmeos durante o passado, presente e futuro. Temos no elenco o casal Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore) e os filhos, Kate (Chrissy Metz), Randall (Sterling K. Brown) e Kevin (Justin Hartley). Cada um possui seu arco na história, onde acompanhamos suas vidas quando crianças e adultos. Jack possui problemas com o álcool e dificuldades financeiras após voltar da guerra. Rebecca, uma cantora amadora que não pensava em ter filhos. Os dois se apaixonam e têm que enfrentar dificuldades quando descobrem que terão trigêmeos. Quanto aos filhos, temos Kevin, um ator de televisão cansado com sua carreira superficial; Kate, uma mulher obesa com problemas emocionais com a mãe e dificuldades para emagrecer; e Randall, que encontra seu pai biológico que o abandonou quando ele nasceu.

A série é um drama familiar, mas nada estereotipada. Tenta fugir dos clichês ao demonstrar os problemas reais que as pessoas envolvidas passam, sejam traumas antigos ou novos, a série tenta revelar que todos temos fantasmas e desafios a enfrentar, mas claro, sempre considerando a condição social, financeira e emocional de cada personagem. Por isso, você corre o risco de se emocionar bastante ao acompanhar a vida dessa família, muitas vezes disfuncional, mas também muito unida por laços de amor.

Outro ponto alto da série é que ela aborda temas atuais, como alcoolismo, obesidade, depressão e adoção. Nós conseguimos gostar dos personagens tanto pelas qualidades como pelos erros (bem humanos) que cometem.  Ademais, mesmo se tratando de um drama, a constante troca no fluxo temporal na história dos Pearsons deixa o enredo dinâmico, emocionante e não muito arrastado e por isso a série vale a pena.


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A pé ele não vai longe (2018)

O longa-metragem de Gus Van Sant conta a história do cartunista John Callahan. Não é oficialmente uma biografia, mas apenas baseado na vida do artista. John (Joaquin Phoenix) era alcóolatra e, após sofrer um acidente de carro na década de 70 e perder o movimento das pernas, teve que se reinventar. Não só buscar ajuda para combater seu vício, como aprender a desenhar com o pouco movimento que ainda possuía. John desenhava com o lápis entre suas mãos. Ficou famoso pelo seu humor ácido e ironias. Criticava o racismo, a sexualidade, a sociedade e sua própria deficiência.

No grupo de apoio, ele conhece Donnie (Jonah Hill), que o acompanha nessa jornada de redenção pessoal. O filme, no entanto, não fantasia ou glorifica a sua superação, ao contrário, mostra com certa realidade os lados positivos e negativos sobre a vida conturbada de John. Mostra, por exemplo, o quão bom eram os momentos quando ele bebia muito e perdia o controle, sem colocar um culpa no personagem. Por outro lado, também mostra as dificuldades que ele possuía devido sua deficiência.

Esse filme mostra várias linhas do tempo do protagonista antes e depois do acidente e tem uma vibe feel-good-movie, pois, além de possuir uma fotografia clara, os quadrinhos que surgem na tela eventualmente ajudam a trazer leveza à experiência. É uma boa atuação em uma história de superação sem grandes glórias hollywoodianas. A jornada do artista no sentido da aceitação e adaptação, o que, mais uma vez, deixa o filme fiel à realidade.

 

 

 

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Amantes (2008)


 

Amantes (Two lovers) é um daqueles filmes que marcam de uma forma singela, ao mesmo tempo que trazem um aprendizado valioso. Inicialmente, quando o assisti lá em 2008, não vi tão claramente sua mensagem, que só fui perceber anos depois, após viver experiências que sempre me fizeram retornar a esse filme. Leonard é um judeu de uns 30 anos que volta a morar com seus pais após sua noiva o abandonar. Ele tem surtos depressivos e acaba se envolvendo com duas mulheres que entram em sua vida de forma casual. Cassandra (Vinessa Shaw), filha do sócio de seu pai e Michelle (Gwineth Paltrow), sua vizinha que possui uma vida turbulenta e problemática.

Ele vive fotografando lugares e continua preso mentalmente a seus problemas. Enquanto Cassandra traz à tona um doce sentimento de lar e família, Michelle vira seu mundo de ponta a cabeça, fazendo com que Leonard faça de tudo para ficar ao lado dela. Vive numa linha dividida entre a realidade de alguém que realmente gosta dele e a fantasia de conquistar outra que não demonstra interesse ou que não possui nada em comum com ele. O diretor James Gray faz muito bem isso ao jogar com as câmeras, quando, em um momento, Leonard se mostra desinteressado por Cassandra em seu quarto e busca imediatamente a ansiedade que é estar com Michelle, ao buscar sua janela.

O desinteresse que ele mostra por Cassandra, ele também sente em relação à sua vida, família e trabalho. Já com Michelle ele demonstra um outro lado, mas ainda assim muito ingênuo sobre a vida. Creio que o filme ensina a como visualizamos a realidade ou até a distorcemos, seja por imaturidade, seja por uma depressão ou traumas emocionais. Amantes é um drama romântico melancólico, com uma fotografia fria e uma trilha sonora judia que serve tanto aos momentos tristes, quanto nos felizes do personagem. Ah, e é mais uma atuação magistral de Joaquim Phoenix.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

De olhos bem fechados (1999)


Essa foi a última obra do aclamado diretor Stanley Kubrick, que morreu logo após o longa. Inicialmente, não foi bem recebida pela crítica, no entanto, com o tempo, foi-se percebendo as sutilezas e genialidades do diretor, que acabou por não ver sua obra finalizada.

Acompanhamos a história do casal Bill (Tom Cruise) e Alice (Nicole Kidman), ricos e com um casamento aparentemente perfeito, que ao irem em uma festa de gala, cada um acaba por flertar com outras pessoas, colocando à prova o casamento e mostrando que a relação não era tão perfeita assim. Bill flerta com duas modelos, enquanto Alice dança com um desconhecido que claramente apenas quer leva-la para a cama. Após a festa, em casa, o casal acaba discutindo e Bill fica transtornado ao ouvir uma confissão de Alice, dizendo que tinha se apaixonado por um marinheiro assim que eles se casaram e que largaria tudo para ficar com ele se tivesse uma chance. Bill então sai de casa para atender a um chamado – ele é médico – e acaba por perambular pelas ruas de uma sombria Nova York.

Bill interage com várias pessoas e, após saber de uma festa secreta através de um amigo pianista, acaba indo fantasiado a uma mansão isolada. Nesse momento, creio que fica mais interessante ao leitor assistir ao longa e tirar suas conclusões desse terror criado pelo Kubrick. De olhos bem fechados trata sobre relações, pecados, desejos reprimidos e falta de comunicação. Ao andar pela cidade, sob uma trilha sonora macabra feita apenas com o som de teclas de piano, Bill busca uma fuga de sua realidade conjugal ao tentar fazer coisas que normalmente não faz. No fundo, os personagens sucumbem aos desejos, mostrando que somos animais, vestindo fantasias de humanos civilizados.

De olhos bem fechados é um dos filmes que mais gosto e admiro do Kubrick, é um suspense que parece um sonho, mas com conotações e alegorias sobre instintos e desejos bem reais e que denunciam nossa condição humana. 

 

Na estrada (2012)



Dirigido por Walter Salles, Na estrada é a adaptação do clássico “On the road”, de Jack Kerouac e teve produção-executiva de Francis Ford Copolla. Retrata quando o jovem escritor Sal Paradise sai de casa em busca de aventuras, em 1947, para se inspirar a escrever seu livro, passando por diversos lugares e conhecendo várias pessoas, de todos os tipos. Como o amigo Carlo e o co-protagonista do filme, o elétrico e inconsequente Dean Moriarty, a quem Sal passa a seguir em diversas situações, desde noites de drogas, mulheres e até quando cometem pequenos delitos. O livro, assim como o filme, retrata a chamada geração Beat, principalmente citada na década de 50.

Walter Salles, vindo de experiencias magnificas como Central do Brasil e Diários de motocicleta, dá a esse filme uma bela fotografia e personagens fortes e interessantes, fazendo jus ao livro de Kerouac, no entanto, peca um pouco por se arrastar no segundo ato do longa, mostrando apenas uma repetição de viagens e delitos sem sentido. Por outro lado, o filme reforça o ritmo dos protagonistas, sempre ligando os jovens ao Jazz, que, com suas notas improvisadas e certa anarquia musical, demonstra bem a intenção e vida deles.

Destacam-se, também, os diversos personagens que atravessam a história, como a Marylou (Krinsten Stewart), a cativante Terry (Alice Braga), a comovente Camille (Kirsten Dunst) e o escritor Old Bull Lee (ótima interpretação de Vigo Mortensen), entre outros. Por fim, o filme trata com calma como, na verdade, aqueles jovens também eram egoístas e inconsequentes, a exemplo do Dean que se aproveita dos seus fiéis amigos seguidores que o tratam como se ele fosse uma quase-divindade, mas que, ao fim, percebe e acaba sofrendo as consequências de uma vida desregrada e de sua eterna fuga das responsabilidades.

Na estrada vale muito a pena, assim como a leitura de On the road é essencial para os amantes da literatura.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Até a eternidade (2010)



Com o roteiro e direção de Guillaume Canet, esse longa francês aborda amizades e mentiras. Após o acidente com um amigo, um grupo mantém o plano de passar dias na casa de veraneio de Max (François Cluzet). Entre taças de vinho, passeio de barco, acontecem várias revelações que comprometem a amizades de todos em alguma forma. Todos têm que lidar com traições, homossexualidade, depressão e loucuras um dos outros.

Essa pequenas mentiras, do nome do filme em francês “Les petits mouchoirs”, surgem e colocam à prova o laço de família e a amizade do grupo que, mesmo após várias descobertas, tentam manter as aparências e o amor que cada um sente pelo o outro. Os dias nessa casa em frente ao mar se mostram interessantes e você fica curioso em saber como a mentira está em qualquer lugar, mas que, ainda assim, mantém várias pessoas juntas.

A atuação de vários atores atuais do cinema francês ajuda, como de Marion Cottilard, Gilles Lellouche e Benoît Magimel. Até a eternidade trata de amizade e em como aprender a (con)viver em grupo, lembrando muito as festas/férias que, às vezes, passamos entre família e amigos.

Solidão compartilhada



Tempos de quarentena são difíceis. Há três meses vou apenas ao mercado perto de casa, com poucas incursões ao trabalho. No entanto, semana passada, sai com um colega e decidimos pedir uma cerveja e tomar ali mesmo, na calçada, fora do bar (ambos devidamente com máscara e mantendo o distanciamento) . Entre algumas conversas aleatórias e recordações, o dono do bar solta “você sabe o Thales?”, meu amigo responde “sim, que tem ele?”, por sua vez o primeiro diz com um tom nebuloso “ele se matou no domingo”. Nessa hora o clima pesou e nós três sentimos um embrulho no estômago. E assim ficamos um tempo.

O dono do bar fala “...mas ele não era depressivo. Não entendi. Deve ter sido a solidão”. Eu, observando os dois conversarem sobre o amigo que se foi, fiquei sem palavras, até que, após um respiro, disse “quando a solidão vem, ela bate com força”. Todos nós assentimos. Logo após chegou um vizinho, mas o ar surgido do que fora contado há pouco sobre a morte de um conhecido ainda permaneceu ali, até se dissipar. Então, aquele bar, aqui no centro de SP, voltou a ser um pequeno reduto de filósofos e cientistas políticos de plantão.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

A despedida (2019)



Esse segundo filme da cineasta Lulu Wang é um retrato sobre a morte e relacionamento familiar. Conta a história de Billi, interpretada pela Awkwafina, que mora em Nova York e tem que voltar à China pois sabe que sua querida avó Nai Nai (Shuzhen Zhao) está doente e tem pouco tempo de vida. O longa explora bem a diferença de pensamento entre Billi com o restante da família, que opta por esconder de Nai Nai sua real condição. Algo que, aparentemente, é comum na China. 

A família, então, arma um casamento apenas com o intuito de unir a todos e deixar Nai Nai feliz, pois cada uma foi para um lugar diferente. Billi não entende, pois prefere conta a verdade à sua avó, mas sempre é repreendida pela mãe e tio. Ela, logo, passa a ficar mais na companhia da sua avó por saber de seu fim próximo e guarda o segredo. O filme tem sucesso em mostrar de forma objetiva as diferenças culturais que existem até mesmo em um povo com a mesma origem. O tio de Billi, para justificar o segredo, diz a ela que “se a pessoa tem câncer, ela vai morrer. Não é a doença que mata, mas o medo”. Uma visão, por vezes, bem diversa da encarada no ocidente.

A morte é o pano de fundo do filme, mas que possui um arco de dramédia e bons momentos em família, fazendo com que reflitamos sobre valorizar quem está ao nosso lado, mesmo que esteja, às vezes, longe. O laço familiar e o aprendizado extraído de momentos simples ficam marcados, mesmo que você nem perceba. Por fim, destacam-se as atuações da Awkwafina e da doce  Shuzhen Zhao, cada uma com sua sensibilidade.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Cópia fiel (2010)



Filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami, “Cópia fiel” começa quando o escritor inglês James Miller viaja para uma pequena cidade na Itália para divulgar seu livro, que possui o mesmo nome do filme. Ele então conhece a dona de uma pequena loja de obras de arte chamada Elle. Os dois saem para andar pela cidade e conversam sobre vários assuntos.

No bom estilo “Antes do amanhecer”, os dois discutem sobre vários temas interessantes, como o valor do original e da cópia, arte e família. James é frio e racional, Elle é emotiva e preocupada, já que tem um filho e precisa assumir várias funções, como ser mãe, pai e trabalhar, ao mesmo tempo. Entretanto, o filme tem uma reviravolta quando, após serem confundidos por uma senhora, ambos se comportam como marido e mulher (ou de fato seriam casados e não sabíamos?). Aí se encontra a boa trama do diretor Kiarostami.

O filme é bem dividido nessas duas partes que não se excluem, pelo contrário, poderiam até serem invertidas que a trama continuaria interessante, já que ficamos com a dúvida sobre o que é real (ou cópia) na conversa dos dois. No entanto, esse entendimento você somente conseguirá extrair – se for essa a intenção, é claro -, ao assistir a esse filme, que é simples, mas que traz um debate importante, como por exemplo: A obra original não seria apenas uma cópia bem feita ou uma representação daquilo que já existe? O que é verdadeiro e falso na relação entre James e Elle? A interpretação é sua.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Lion – Uma jornada para casa (2016)



O drama conta a história de Saroo, um menino que se perdeu numa estação de trem em Calcutá. Então mostra os desafios que enfrentou até ser adotado por uma família australiana. Anos depois, ele busca encontrar suas origens usando o Google Earth. É uma singela trama emocionante, mas que também tem seus deslizes.

É um filme com cara de comercial publicitário e esse pensamento não é à toa, já que o diretor iniciante Garth Davis fazia comerciais de TV (acho que o Google ganhou uns pontos com isso). Ademais, a relação de Saroo adulto com sua namorada, vivida pela Rooney Mara, também não convence, mostrando ela distante do protagonista, mesmo o apoiando em sua jornada.

Os pontos altos ficam com a atuação da mãe adotiva, com uma bela interpretação de Nicole Kidman, do pequeno Sunny Pawar, correndo pelas ruas e chamando pelo seu irmão Guddu, e pela dicotomia entre a pobreza indiana e a riqueza no litoral da Tasmânia, onde Saroo foi morar após ser adotado. Ah, a fotografia também soube jogar bem com as luzes naturais e tem seu destaque no longa.

Lion foi indicado a 6 Oscars e trata sobre família, laços de sangue e origens.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Expresso do amanhã (2013)



Este filme de Bong Joon-Ho, diretor de Parasita (2019), traz o que restou da humanidade, após o planeta ter esfriado devido a uma tentativa fracassada de evitar o aquecimento global, vivendo em um trem dividido em vagões que definem suas classes sociais. Quem vive na parte da frente são os ricos e, no fundo, os pobres. O filme trata da tentativa de Curtis (Chris Evans) em chegar na parte da frente do trem, através de uma rebelião interna.

Assim como O Poço, da Netflix, o filme demonstra como o egoísmo e a exploração se tornam comuns tão somente pela condição social da pessoa, ou melhor, pela posição em que ela se encontra. No entanto, diferentemente de O Poço, em que existe uma segregação vertical e com a possibilidade aleatória de ascensão ou queda social, em Expresso do amanhã há uma divisão horizontal e com impossibilidade de movimentação da condição humana.

Assim, Curtis quer matar o Wilford (Ed Harris) que é quem defende esse determinismo social e é o criador do trem, morador do primeiro vagão. O filme mescla bem cenas de ação com uma critica social sobre como a sociedade é seccionada e como alguns que possuem muito vivem à custa da exploração de uma parcela da população condenada à pobreza e a péssimas condições de vida. Portanto, é um filme com um tema que é sempre atual e relevante.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

The Wire (2002-2008)



Ambientada em Baltimore, The Wire é um soco no estômago, mostrando de forma crua a frieza e a dura realidade de uma cidade decadente, dominada pelo tráfico de drogas e pela corrupção e jogos políticos sujos nos mais diversos níveis institucionais. No entanto, acima de tudo, trata da perda da inocência, da juventude e de qualquer ato de civilidade ou senso comunitário. O dinheiro move as pessoas, seja nas esquinas, seja nos corredores do Poder. A série não é maniqueísta e mostra que a diferença entre o bem e o mau é muito tênue.

The Wire não é uma série policial, ela é política, uma crítica social, logo, não espere vilão e mocinho bem definidos, nem grandes perseguições e cenas de ação, pois ela quer demonstrar como o sistema como um todo é errado e falho. O enredo é contado através dos vários personagens e suas aflições cotidianas, passando por policiais, traficantes, políticos, crianças, jornalistas e cidadãos comuns. Não há protagonista, todos contam suas histórias e representam bem como é a inglória realidade em uma cidade mergulhada na violência urbana. E, se fosse haver um personagem principal, seria a própria cidade de Baltimore.

Cada umas das cinco temporadas tem um foco diferente, sendo: o combate ao tráfico, o porto e os estivadores, a política, a escolas e a mídia local. Criada pelo repórter policial David Simon, The Wire foi produzida pela HBO e merece o título que recebeu há uns anos de melhor série já feita, por ser dura e realista, opinião essa que também compartilho.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Jojo Rabbit (2019)



Este filme se tornou uma ótima surpresa no final de 2019, é uma adaptação de um livro de Christine Leunens, sendo vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado. O enredo fica em torno de Jojo Betzler, garoto de 11 anos, da juventude nazista e que tem como ídolo Hitler, que também é seu amigo imaginário, vivido pelo diretor neozelandês Taika Waititi. O filme é uma crítica e sátira dos mitos e absurdos ideológicos do nazismo, em como uma criança via e acreditava nas histórias sobre judeus e idealizava Hitler.


É um roteiro que traz leveza a um assunto complicado e delicado. Com vários momentos de comédia e ironia, o filme diverte e nos intriga ao ver como a visão de uma criança é tão fértil, mas também manipulável. O pequeno Jojo começa a questionar suas verdades ao descobrir que sua mãe, interpretada lindamente pela Scarlett Johansson, esconde uma judia num esconderijo na parede. Alí, começam a cair por terra as mentiras que até então Jojo acreditava sobre o que estava acontecendo na guerra.

O filme corre o risco de amenizar os horrores da guerra, trazendo um Hitler carismático e engraçado, mas tudo é entendido ao lembrar que se trata da imaginação do jovem Jojo, que tinha no ditador nazista o seu maior ídolo. Ademais, o filme não traz uma reflexão profunda sobre a guerra, não é essa a intenção da direção de Taika Waititi.

Por fim, Jojo Rabbit também faz sutilmente uma homenagem às mães que criam seus filhos sozinhas e nas alegrias que as crianças precisam ter na infância. É um trabalho responsável dentro de uma comédia leve e emocionante.




terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Parasita (2019)



Fazendo jus a ascensão do cinema sul-coreano, “Parasita” traz uma crítica social importante em um ótimo e provável melhor filme de 2019. Trata de duas famílias, de um lado os Kim, família pobre que vive em um sub-andar - quase-porão - em um nível abaixo da rua, com visão para uma lixeira constantemente urinada por bêbados. Do outro lado, os Park, a família burguesa que vive em um bairro rico, na parte alta da cidade.

Aos poucos, os Kim conseguem se infiltrar na família Park, quando o filho vai ensinar inglês para a filha dos Park. A partir desse ponto, o diretor Bong Joon-Ho trata com um humor ácido as artimanhas e malandragens dos Kim para conseguirem se aproximarem da família abastada. Exemplo disso é quando o filho dos Kim fala para toda obra artística “que metafórico!”, ironizando como a burguesia retratada nos filmes se considera melhor que os demais.

O segundo e terceiro atos são intensos e assumem conotações sombrias, dando um ritmo quente e extremamente interessante à narrativa, já que são feitas revelações na trama que mudam todo o plano da família Kim. Creio que o interessante nesse filme é como o diretor aborda a estratificação social na coréia (assim como também vemos aqui) através de metáforas, como, por exemplo, o fato de os Kim morarem bem abaixo da rua e os Park em uma colina, fato percebido quando eles sobem e descem a via, enfatizando as diferenças sociais. Por fim, o modo como os Kim se “unem” aos Park justifica perfeitamente o nome do filme.

“Parasita” é um filme genial, com belas tomadas e situações cômicas, fortes e também muito intrigantes.