sexta-feira, 18 de maio de 2012

Um método perigoso



"Às vezes as pessoas têm que fazer algo imperdoável só para continuar vivendo".

As pessoas temem a mente perturbadora de algumas pessoas, ainda mais quando pagam para conhecê-la, destaco aqui a do cineasta David Cronenberg (Um método perigoso). Eu gosto; porque adoro sair tonto do cinema, ou no caso da minha casa mesmo. Ficar em silêncio horas, na tentativa de digerir vorazmente o que acabo de ver. Isso ocorreu ao assistir “Um Método Perigoso” (2011).  Frases como a supratranscrita acabam com meu sono, para variar. E ela começa e termina assim: “Meu amor por você foi a coisa mais importante na minha vida. Por bem ou por mal, me fez entender quem eu sou. Às vezes as pessoas têm que fazer algo imperdoável só para poder continuar vivendo.”. E mais: “O resto é silêncio”.

Não é fácil um pensamento desse te cutucando o juízo, com “aquela” sessão de que, no fundo, você já sabia... É uma verdade, daquelas que dói quando nos vemos diante desse espelho (outro método perigoso: o de saber se enxergar de dentro para fora e de fora pra dentro, feito reflexo.Tente.).

É um filme preciso, cirúrgico, metódico e sistemático, assim como David Cronenberg. E devastador!, com sua brilhante ideia de mostrar o encontro de Jung e Freud, às vésperas da primeira Guerra Mundial e pós-guerra (e, também, a “guerra” travada entre esses dois gênios). O encontro com Sigmund Freud (Viggo Mortensen) faz Jung ficar entalado entre a interpretação de certas neuroses pelo viés sexual (teoria da qual não discorda, mas acha limitante) e o amor, cada vez mais latente, por sua paciente. Jung experimenta métodos, ensinando a profissão a Sabina e quebrando as próprias regras. E aí vem, como quase tudo na vida, a culpa social, um dos motivos que faz com que qualquer pessoa embarque na loucura.

O cinema de Cronenberg é tão poderoso a ponto de nos presentear com diálogos inteligentes e imagens fantásticas: pontos altos do filme. “Anjos sempre falam em alemão, diz-se (uma das muitas frases sarcásticas). Assim como “O Prazer nunca é simples, complementa. A perspicácia das conversas torna o filme sóbrio, adulto e espetacular, mitigando tabus.

É um filme que merece ser visto e revisto. E é aí que eu entro e saio, pondo pulgas atrás da sua orelha, meu caro leitor, feito uma dica para um domingo tão monótono (isso para alguns,quando não tem praia ou um jogo do Mengão, rs) ... Desperte sua simples vontade de falar o óbvio e sentir o comum, pois isto está em falta atualmente.
Texto adaptado de uma coluna de jornal

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Pé na lama e sapato na sombra


Hoje pela manhã, ao assistir um jornal, perdi o ânimo logo cedo. Uma das cidades que sofreram com as enchentes no Rio de Janeiro, ano passado, possui um ginásio escolar com 5 Toneladas de sapatos mais produtos de higiene “largados” que nunca foram entregues!

O Brasil todo doou para ajudar na reconstrução da vida daqueles que sofreram com aquela catástrofe, mas que nunca receberam nada. É indignante ver o repórter subir em uma pilha de sapatos doados que nunca foram entregues a quem realmente precisava (precisa). Sapatos novos ou usados, papéis higiênicos, pastas de dentes, sabonetes, roupas, tudo faz a diferença quando nada restou, não importa a origem.

Deve ser horrível acordar a noite com o som de toneladas de terras sobre sua casa, quebrando estruturas, matando amigos e parentes e ver, com as chuvas, tudo indo embora. Assim como a esperança. Penso que quem doou fica frustrado com as cenas, mas quem é cidadão e humano não irá se arrepender de ter “tentado” fazer algo para ajudar. E não deve se arrepender mesmo.

Aqui no Brasil, isso é mais um dos famigerados problemas de mais uma de nossas municipalidades que, nesse caso, mostra que além do problema da ausência do controle dos produtos, provou ter absoluta falta de humanidade.