Naquele dia ele estava
estranhamente feliz. Não sabia de onde vinha aquele sentimento tão simples e
cada vez mais raro em seus dias. Costumava achar que tudo na vida era uma
obrigação, que tudo era rotina. Naquele dia isso não aconteceu. Estava com o pensamento
longe, olhava para o céu e uma música calma, quase um mantra, tocava em seus
ouvidos. Ele estava leve, calmo. Sentia que podia se conectar às estrelas, que
fazia parte de algo maior. Não era religião, tampouco drogas. Era o esplendor
de sua mente, alcançando o auge de sua força e clareza. Não tinha medo, não
tinha dúvida. E antes que tudo acabasse, ele resolveu escrever num papel aquele
sentimento, para que nunca mais pudesse esquecer como era. Depois ele se deitou
e foi dormir com a esperança que seus sonhos fossem tão bons quanto sua
realidade.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
terça-feira, 5 de julho de 2016
(des)construção
Há momentos em que devemos nos (des)construirmos.
Livrarmo-nos das amarras bobas e cegas que teimam em não deixar nossa mente
livre. Construções psicológicas, feitas ao longo de nossa curta vida, não são
contratos que assumimos com nosso destino, ao menos, não deveria ser assim. “Vivemos
tempos líquidos”, como diz Bauman. Diante dos mais diversos arquétipos que são
impostos social, econômico e culturalmente para nós todos, mais do que apenas
aceitar, certo seria construirmos nosso próprio modelo pessoal, que, em tese, deveria
ser flexível e adaptável; assim penso. Curiosamente somos massacrados por
ideias majoritariamente infundadas e fechadas, mesmo que com aparência de
modernas e abertas. Aos poucos somos manipulados e encarcerados em um mundo
onde o desamparo afetivo torna-se corriqueiro. Pelo que se vê, o pensamento
livre arrebatador não existe, e não estamos vendo isso. Triste quando os
devaneios tornam-se mesquinhos e aceitam ser do tamanho do nosso pequeno mundo.
quarta-feira, 6 de abril de 2016
Vida, desmedida
Tenho o costume antigo de acordar
cedo, não por que alguém fazia barulho na cozinha ou o galo cantava no quintal,
mas, sobretudo, devido nunca suportar a ideia, mesmo que sem perceber, de que o
dia estava lá fora e eu nada faria a respeito. Prefiro o frio do amanhecer e do
café quente na mesa a ter que me esgueirar pela madrugada, moribundo de sono.
Trabalhar, ler um bom texto e planejar atividades sempre foram tarefas melhor
executadas no início do dia. Apesar de adorar a noite, considero-me um “cara
matinal”. Enfim, hoje, logo pela manhã, li um texto que me fez pensar sobre
nossa vida competitiva, e, muito além dos conceitos exíguos de capitalismo financeiro,
refleti sobre a concepção equivocada que temos sobre nossas ações cotidianas. Nessa vida,
temos pressão social em sermos bem sucedidos, eficientes, “gente boa”, alegres,
donos do carro do ano, bem casados, ou passarmos a simples e boba percepção que
temos uma vida considerada interessante. Para isso, temos que enfrentar e
derrotar todos que passarem por nós, mostrando o nosso lado cruel de
combatividade, ou seja, dizermos que somos melhores social, cultural ou
financeiramente que os demais. Tolos somos nós ao viver assim, como touros e
toureiros numa arena. Penso, nessa busca desenfreada por vitórias desmedidas,
que nos perdemos nesse caminho, julgamos, batemos e, de fato, não vivemos em
conjunto, em sociedade. O homem caçador-coletor, antes do Neolítico, percebeu
que até 80% que precisava para sua subsistência, advinha da coleta em natureza,
não da caça em si. Além disso, a atividade em grupo colaborava mais que a caça
isolada. Esse modo de viver precedeu a agricultura e a pecuária e trouxe a ideia mais
nobre e genuína de trabalho em grupo e coletividade. Perdemos isso com o tempo,
e o altruísmo existe devido atitudes individuais e não mais da vontade social
que o mundo dê certo, de maneira geral. Bloquear sua vida por um aspecto ou
busca de pódio social, sem considerar o meio em que vive e as pessoas
impactadas, é uma empreitada mesquinha e vergonhosa, por se dizer. Quando o
homem lembrar que o conceito de humanidade é plural, melhor seremos para todos.
domingo, 17 de janeiro de 2016
O dia lá fora
Sempre gostei do clima de chuva,
não dela em si. Ficar em casa e sentir o
vento gélido pela janela sempre foi um ótimo motivo para escrever. As palavras
sempre fluem quando se está num ambiente propício, debaixo de lençóis e com uma
xícara de café na mesa. Pelo menos para mim. As luzes da noite se aproximam
mais rápido quando se está nublado lá fora. Cada gota que escorre pelo vidro da
janela transforma-se em um novo pensamento, melancólico (às vezes), porém
lúcido e interessante. A saída do sol não pode ser encarada com tristeza ou
reclamação, mas como uma nova oportunidade de viver sob as nuvens densas e
cinzas. O dia fica mais parado, no entanto com muito a se dizer. Sozinho ou
acompanhado, há muito que se viver na chuva. Cada poça d´água tem uma história, se assim você quiser pensar. O sol também
se esconde para mostrar um novo dia. E tudo, no final das contas, é uma questão de perspectiva.
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