segunda-feira, 6 de julho de 2020

Solidão compartilhada



Tempos de quarentena são difíceis. Há três meses vou apenas ao mercado perto de casa, com poucas incursões ao trabalho. No entanto, semana passada, sai com um colega e decidimos pedir uma cerveja e tomar ali mesmo, na calçada, fora do bar (ambos devidamente com máscara e mantendo o distanciamento) . Entre algumas conversas aleatórias e recordações, o dono do bar solta “você sabe o Thales?”, meu amigo responde “sim, que tem ele?”, por sua vez o primeiro diz com um tom nebuloso “ele se matou no domingo”. Nessa hora o clima pesou e nós três sentimos um embrulho no estômago. E assim ficamos um tempo.

O dono do bar fala “...mas ele não era depressivo. Não entendi. Deve ter sido a solidão”. Eu, observando os dois conversarem sobre o amigo que se foi, fiquei sem palavras, até que, após um respiro, disse “quando a solidão vem, ela bate com força”. Todos nós assentimos. Logo após chegou um vizinho, mas o ar surgido do que fora contado há pouco sobre a morte de um conhecido ainda permaneceu ali, até se dissipar. Então, aquele bar, aqui no centro de SP, voltou a ser um pequeno reduto de filósofos e cientistas políticos de plantão.

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