Tenho o costume antigo de acordar
cedo, não por que alguém fazia barulho na cozinha ou o galo cantava no quintal,
mas, sobretudo, devido nunca suportar a ideia, mesmo que sem perceber, de que o
dia estava lá fora e eu nada faria a respeito. Prefiro o frio do amanhecer e do
café quente na mesa a ter que me esgueirar pela madrugada, moribundo de sono.
Trabalhar, ler um bom texto e planejar atividades sempre foram tarefas melhor
executadas no início do dia. Apesar de adorar a noite, considero-me um “cara
matinal”. Enfim, hoje, logo pela manhã, li um texto que me fez pensar sobre
nossa vida competitiva, e, muito além dos conceitos exíguos de capitalismo financeiro,
refleti sobre a concepção equivocada que temos sobre nossas ações cotidianas. Nessa vida,
temos pressão social em sermos bem sucedidos, eficientes, “gente boa”, alegres,
donos do carro do ano, bem casados, ou passarmos a simples e boba percepção que
temos uma vida considerada interessante. Para isso, temos que enfrentar e
derrotar todos que passarem por nós, mostrando o nosso lado cruel de
combatividade, ou seja, dizermos que somos melhores social, cultural ou
financeiramente que os demais. Tolos somos nós ao viver assim, como touros e
toureiros numa arena. Penso, nessa busca desenfreada por vitórias desmedidas,
que nos perdemos nesse caminho, julgamos, batemos e, de fato, não vivemos em
conjunto, em sociedade. O homem caçador-coletor, antes do Neolítico, percebeu
que até 80% que precisava para sua subsistência, advinha da coleta em natureza,
não da caça em si. Além disso, a atividade em grupo colaborava mais que a caça
isolada. Esse modo de viver precedeu a agricultura e a pecuária e trouxe a ideia mais
nobre e genuína de trabalho em grupo e coletividade. Perdemos isso com o tempo,
e o altruísmo existe devido atitudes individuais e não mais da vontade social
que o mundo dê certo, de maneira geral. Bloquear sua vida por um aspecto ou
busca de pódio social, sem considerar o meio em que vive e as pessoas
impactadas, é uma empreitada mesquinha e vergonhosa, por se dizer. Quando o
homem lembrar que o conceito de humanidade é plural, melhor seremos para todos.
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