Hoje vi uma mulher fazendo crochê
no ônibus. Apesar de distante da minha realidade, sempre achei esse entrecruzar
de linhas uma arte, uma quase ciência, muito cartesiana e complexa para ser
aprendida. Mas ela era persistente, o calor não a interrompia, os buracos na
rua não a faziam errar. Os olhos curiosos dos passageiros não tiravam a
serenidade daquela senhora. Fazia voltas e mais voltas com a linha, escolhia cirurgicamente
o lugar a ser furado, e a agulha, que era segurada com a leveza de um pintor
que manuseia seu pincel, desenhava uma bela letra vermelha. A pessoa que faz transmite
honestidade e tranquilidade. Nada de louco pode ser associado ao crochê. Quem o
faz não precisa ser consultado no SPC/SERASA porque fazer um desenho num pedaço
de pano é ter um alvará de franqueza. Outrora, uma atividade feita pelos mais
velhos, hoje pode ser uma terapia, uma alternativa para quem não quer tocar
violão ou precisa de mais discernimento. A paciência em cada traçado tira a
pessoa do mundo real, aprende-se a ter foco e precisão. Havia paz naquele banco
no ônibus.
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