sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Linhas


Hoje vi uma mulher fazendo crochê no ônibus. Apesar de distante da minha realidade, sempre achei esse entrecruzar de linhas uma arte, uma quase ciência, muito cartesiana e complexa para ser aprendida. Mas ela era persistente, o calor não a interrompia, os buracos na rua não a faziam errar. Os olhos curiosos dos passageiros não tiravam a serenidade daquela senhora. Fazia voltas e mais voltas com a linha, escolhia cirurgicamente o lugar a ser furado, e a agulha, que era segurada com a leveza de um pintor que manuseia seu pincel, desenhava uma bela letra vermelha. A pessoa que faz transmite honestidade e tranquilidade. Nada de louco pode ser associado ao crochê. Quem o faz não precisa ser consultado no SPC/SERASA porque fazer um desenho num pedaço de pano é ter um alvará de franqueza. Outrora, uma atividade feita pelos mais velhos, hoje pode ser uma terapia, uma alternativa para quem não quer tocar violão ou precisa de mais discernimento. A paciência em cada traçado tira a pessoa do mundo real, aprende-se a ter foco e precisão. Havia paz naquele banco no ônibus.

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