Ele era diferente, tinha
modas e manias, caminhava rapidamente, coçava a cabeça quando estava ansioso e possuía
uma incrível preocupação com o tempo, talvez por sua composição astrológica que
ele teimava em não acreditar. Ela era séria, tinha um olhar triste, mas era
carinhosa e gentil, possuía um ciúme irresistível e cultivava uma modéstia
admirável.
No apê dele, sempre víamos as
roupas amassadas no canto do quarto, as chinelas quase embaixo da cama, papéis
compartilhando o espaço de cima da mesa marrom que ganhara da tia, capas de CDs
nas gavetas e o notebook aberto com algum filme passando. Ela sempre achou
estranho sua mania de cinema. Via-o com olhos de alguém bobo, mas
irresistivelmente atraente e interessante.
Os dois combinavam. Gostavam da
discrição e das aventuras entre as quatro paredes. Tinham sonhos e objetivos,
vidas e vivências. Ele ia e ela o seguia, não atrás, ao lado. Gostavam de
tardes no parque e de barzinhos na madrugada.
Porém, um dia a conversa parou. As
ligações cessaram, mudaram de horário, e demoravam a ser atendidas. As
divergências sempre existiam, mas eram ofuscadas pela opressão dos sentimentos
bons e das noites de vinho no tapete da sala dele. Não importa como, os rostos
ficaram inconvenientes e, de repente, a fala tornou-se grito. Minto, eles não
brigavam, se evitavam. Do sol quente e da cerveja gelada, sobrou o alento das
lembranças. O sábado tornou-se depressivo e o saudosismo suas primeiras
palavras.
Um dia, a vida a dois deixou de
ser fantasia ou romance e se tornou apenas vida a dois. Foi isso que eles
perceberam. E aos poucos as conversas voltaram. A conformação era o sentimento
mais límpido que repousava nos travesseiros. O amor tem um pouco de
compreensão. Dizer “te amo” não é um “bom dia”. Ela entendeu. Ele se adaptou.
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