Ele tragou o último cigarro da
gaveta. Fazia um tempo que lia e relia seus autores prediletos.
Arrumava papéis na mesa, deixava a caneta onde pudesse pegá-la facilmente. Mais
perto que isso, só o copo e o cinzeiro. Lembrava que tinha que arrumar a casa,
lavar as roupas e guardar os pratos. No entanto, ficava sentado, lendo
rascunhos antigos e ignorando as trivialidades domésticas ao seu redor. “Dessa
vez será diferente”, pensou ele antes de se encostar na cadeira. O teto do
apartamento nunca pareceu tão distante e seus pés tão frios. “Duvido que o
Bukowski usava meias”, pensou. Então deitou no sofá. Um dedo do vinho do fundo da geladeira foi o bastante para ele ter o sono dos (in)justos. A luz que viu não foi a do
fim do túnel, mas a do seu notebook, esquecido no canto. Os livros na mesa
continuaram o encarando e a solidão foi sua única companhia naquela noite.
Sua cisma sempre à espreita.
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