segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Negligência


Ele tragou o último cigarro da gaveta. Fazia um tempo que lia e relia seus autores prediletos. Arrumava papéis na mesa, deixava a caneta onde pudesse pegá-la facilmente. Mais perto que isso, só o copo e o cinzeiro. Lembrava que tinha que arrumar a casa, lavar as roupas e guardar os pratos. No entanto, ficava sentado, lendo rascunhos antigos e ignorando as trivialidades domésticas ao seu redor. “Dessa vez será diferente”, pensou ele antes de se encostar na cadeira. O teto do apartamento nunca pareceu tão distante e seus pés tão frios. “Duvido que o Bukowski usava meias”, pensou. Então deitou no sofá.  Um dedo do vinho do fundo da geladeira foi o bastante para ele ter o sono dos (in)justos. A luz que viu não foi a do fim do túnel, mas a do seu notebook, esquecido no canto. Os livros na mesa continuaram o encarando e a solidão foi sua única companhia naquela noite.

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