Se as palavras no papel acompanhassem
na mesma velocidade o que pensamos, teríamos verdadeiras obras de arte, mesmo
que prolixas e confusas, em sua maioria. Em meus devaneios diários não me
atrevo a tentar transcrever tudo o que reflito – se é que faço isso – num espaço qualquer. Não há tempo hábil.
Bem, uma coisa é o tempo, outra,
igualmente importante, é o objeto do discurso. Textos são pessoais. Ficção ou
fatos vividos são obras pessoais. O leitor deve saber que aquelas palavras
representam pequenos atos de egoísmo que são compartilhados para alguém. O
autor é o egoísta que mais doa ao mundo, logo. Se aqueles rascunhos permanecessem
“presos” em gavetas nunca abertas, de nada valeriam. O autor morreria com seu
orgulho, sozinho. Doar, por sua vez, também não significa ter um destinatário
específico. Escrever pode ter um sentido fechado, ou seja, o autor se contenta
com o simples (longe disso) ato de escrever. Faz porque tem que escrever, não
porque alguém tem que ler. Ou, como na vida, poderíamos dizer que você é o que
você ama, não quem ama você. Se o leitor identificar-se com o texto, ótimo; porque
escrever é fazer da fuga, um encontro.
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