Aquele
velho já foi uma criança inteligente, um jovem entusiasmado, um adulto
organizado, um pai parceiro e um avô carinhoso, mas nunca deixou de ser o
passado que insistiu em reviver. Naquela velha cadeira na varanda, perto do
mar, ele lia papéis velhos, amassados e corroídos pelo tempo, porém, com algum
esforço, conseguia sentir o cheiro do perfume do dia em que se conheceram, no
gosto da cerveja gelada num bar que já foi fechado, numa cidade que já não mora
mais. O choro não é um sentimento ou um ato, mas um samba antigo que se repete nas suas
memórias de juventude. Quando perguntado pelo neto no que sempre estava pensando,
aquele velho respondia: “No lugar que um dia foi meu, para
onde fujo, onde ninguém irá me encontrar. Nas minhas lembranças.” A palavra
‘saudade’ só existe no português e para aquele velho, era como um poeta sozinho
em uma ilha, uma flor esquecida no concreto, a marca de batom num copo já vazio. Um amor
que nunca acabou, lembranças jamais esquecidas.
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